Translate

Seguidores

segunda-feira, 8 de maio de 2023

A Adusb e a indispensável conexão com os movimentos sociais do Fórum Sindical e Popular

Atividade de 1º de Maio de 2023 do FSP, ocupação Cidade Bonita do MTD

"A imprescindibilidade de um sindicato orgânico da classe operária, no nosso caso a Adusb, não é dada tão somente pelo seu caráter anticapitalista e pela defesa realizável de uma outra sociabilidade, mas também pelo compromisso de construir essa conexão intelectual e a práxis com os movimentos de massas e suas lutas."



*por Herberson Sonkha   

    A Associação dos Docentes da UESB (Adusb) vem contribuindo de maneira solidária e, efetivamente comprometida, com a construção das pautadas que norteiam as lutas dos movimentos sociais vinculados ao Fórum Sindical e Popular [FSP] de Vitória da Conquista. Isso diverge da postura sindical ideologicamente fugidia ou fugaz de muitas entidades que capitularam ao discurso liberal de triunfalismo do capitalismo no final do século XX, frente à redução significativa de filiações de sua base no movimento sindical revolucionário brasileiro nas últimas décadas.   
Esse encurtamento da base social sindical se deve à algumas mudanças ocorridas no mundo do trabalho. Porém, longe de ser a extinção do trabalho, é uma ação conservadora de ajustes promovida essencialmente pelo instinto histórico de sobrevivência do próprio capitalismo [entre crises cíclicas] para aumentar a taxa de retorno de investimento do capital. Suas consequências destrutíveis recrudescem a pobreza e as múltiplas violências [sociais, econômicas, culturais e políticas], quase sempre justificadas por alguma pirotecnia para desviar os olhares mais atentos.  
Desde a década de 80 do século XX, principalmente com o fim da "Guerra Fria" em 1991, a mídia burguesa internacional publiciza exaustivamente o fim da polarização feita pela resistência socialista anticapitalista no mundo e a vinculação da mesma ao cenário artificial "triunfalista" do capitalismo que se globaliza na perspectiva neoliberal.   
A Adusb, entidade sindical classista não só resiste a tudo isso como contesta peremptoriamente qualquer tipo de flerte teórico ou prático com esse sórdido "triunfalismo", sobretudo refutando qualquer tipo de presciência e/ou "lapso de memória" que infirme a luta de classes e a revolução socialista, a exemplo da crítica acida feita ao artigo do economista neoliberal estadunidense Francis Fukuyama, ao predizer a "morte súbita" da história publicado em 1989 (O fim da história?) na revista The National Interest.  
Atualmente, a "obra" de Fukuyama não passa de um cem número de expressões obsoletos, produzido como se fosse um best-seller de ficção escrito por um lunático com volição ao charlatanismo intelectual. No entanto, naquela conjuntura o contexto era outro totalmente propício à exorcização da esquerda, das obras marxistas ou marxianas sobre socialismo, o comunismo e as instituições políticas da classe operária. Esse ambiente favorável ao avanço da escrita liberal burguesa mundial, aguçou a sanha dos neoliberais no Brasil dentro das principais universidades brasileiras, dos partidos e de alguns segmentos mais fluidos do movimento social.  
Essa onda neoliberal no Brasil, teve maior repercussão acadêmica, sindical e estudantil com o desbunde do sociólogo Fernando Henrique Cardoso [eleito presidente do Brasil quase um ano depois] ao pedir que esquecêssemos tudo o que ele havia escrito [publicada pela Folha em reportagem de João Carlos de Oliveira e Antônio Carlos Seidl em 5/6/93]. Em entrevista ao programa Roda Vida, em dezembro de 1994 após as eleições de outubro de 1994, Florestan Fernandes disse “Foi perturbador ver Fernando Henrique conformar-se com o bloco político de sustentação da ditadura e dos paladinos da reação”, fazendo referência as eleições e o seu governo ao colocar em prática a famigerada engenharia política conservadora que tornaria o PSDB neoliberal.   
O governo de FHC se constituiu de inúmeras tragédias socioeconômicas e políticas de maneira escancarada, expondo as vísceras do tecido social brasileiro dilacerado pela economia neoliberal capitalista e sua ordem civil burguesa. Séries estatísticas decifraram a intensificação das contradições neoliberais no Brasil com altos índices de inflação, juros, fome e a extrema-pobreza que grassava os grupos sociais do mundo do trabalho e as populações subalternizadas nas periferias do Brasil. Apesar dessa trágica situação de penúria do povo brasileiro, o governo e a burguesia seguiram em frente incólumes, sustentando a idealização do fim da história.  
A ordem era propagandear os "louros" dos capitalistas do andar de cima e esconder as desgraças da andar de baixo [no dizer do sociólogo Florestan Fernandes] que se alastrava diariamente contra a classe operária brasileira. Isso tem a ver com a propaganda liberal ufanista da "pobreza" dos regimes comunistas como contraponto, expostas com a derrota do socialismo/comunismo [sem qualquer análise crítica das experiências ocorridas na URSSA]. Essa continua sendo a principal catilinária dos ideólogos do liberalismo, com a finalidade de propagandear de maneira positiva a universalização e absolutização das democracias liberais e do livre mercado de capitais mundializado, sob a égide do capitalismo triunfante.   
Esse empreendimento neoliberal do economista Francis Fukuyama, laureado com verniz de cientificidade acadêmica, foi anunciando em 1992 e apetecido volitivamente pelo príncipe dos sociólogos FHC [e seus comparsas neoliberais José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves] e serviu de base para 'decretar' o fim da evolução sociocultural da humanidade.   
Como afirmei acima, o governo de FHC foi absolutamente desastroso para a classe operária e as populações subalternizadas, exceto para a classe dominante detentora de capital, meios de produção e riquezas que ampliaram significativamente suas riquezas com a exploração e venda a preço de banana das estatais. Esse discurso neoliberal coube como uma luva, pois essa estória serviu para justificar a dilapidação do erário público, a venda das estatais à preços módicos e a intensificação de todas as mazelas sociais existentes no país.  
Prevaleceu a lógica mercadológica do Estado social mínimo em favor do mercado máximo. Muito mais uma volição do que uma constatação cientifica do economista religioso [com síndrome de juízo final] Fukuyama no livro "O fim da história e o último homem". Em menos de uma década teve que fazer alguns ajustes até não poder ser considerada uma obra insustentável, duramente criticada no campo das ciências sociais aplicadas marxistas ou marxianas.    
Três décadas depois, ainda revolvendo forças revolucionárias retorcidas pelos efeitos acachapantes da onda neoliberal, o país passou por outro golpe de extrema-direita aumentando ainda mais os escombros deixados pelas políticas neoliberais fascistas da extrema-direita brasileira. A atual gestão da Adusb se posiciona contra o golpe e pela construção coletiva das lutas antifascistas, mantendo a resistência e conspirando contra o capitalismo em sua fase socio-metabólica neoliberal e os lacaios da ordem civil burguesa. Segue organizando [em Vitória da Conquista, Jequié e Itapetinga] e fortalecendo as pautas das massas para superar as promessas [prometeica] "alvissareiras" do capitalismo.   
Ao que parece, a crítica feita tanto a democracia liberal, quanto o livre mercado capitalista, se deve ao fato de que essas suas instituições não resolveram minimamente as principais contradições sistêmicas e, de modo indubitável, impõem inúmeras mazelas à classe operária e as populações subalternizadas. Nesse contexto, o movimento sindical promovido pela Adusb, vinculada a secção da ANDES-Nacional, ao longo desse percurso de desconstrução desse triunfalismo capitalista com ares de ciências, vem propondo na prática um movimento sindical classista combativo.  
Por isso, não hesitou em momento algum em reafirmar seu caráter classista na arena anticapitalista, pois compartilha do conceito da teoria do valor-trabalho de Karl Mark e Frederich Engels que atribui valor à produção [e não a teoria liberal marginalista da satisfação da necessidade e desejo do consumo], baseada na quantidade de trabalho socialmente necessário à sua produção.   
Partindo dessa premissa, as diversas entidades que compõem os movimentos sociais de [Vitória da Conquista, Jequié e Itapetinga] passa a se orientarem na perspectiva que norteia a revolução social da classe operária que cresce e se fortalece com a musculatura dos movimentos de massas, na conjuntura que aponta em direção contrária a essa sociabilidade produtora de todos as mazelas irremediáveis na contemporaneidade.  
A análise de conjuntura apresentada recentemente pelo atual presidente da Adusb na atividade de1º de Maio realizada na ocupação Cidade Bonita [MTD], o professor Alexandre Galvão, confirma que esse modelo econômico neoliberal de desenvolvimento-crescimento do capitalismo é excludente. Esse segregação se deve  ao movimento de reprodução do capital (concentrado e centralizado) para acumular riquezas cada vez mais restritas a uma infinitésima parcela [1%] da população global, que controla mais de 90% de toda a riqueza mundial.   
Essa riqueza é produzida exclusivamente pela classe operária nos três setores da economia [primário, a extração de matérias-primas; secundário, indústria; e terciário coma vende direta de serviços e bens imateriais] brasileira, sem nenhum poder de compra que possibilite desfrutar do consumo minimamente digno, pois seus salários são infinitamente menores do que sua real capacidade de compra.  
Para a Adusb, no âmbito do serviço público não é diferente, pois o assalariamento promovido pelos sucessivos governos neoliberais [inclusive do PT da Bahia] vem achatando os salários ao não promover a correção inflacionária e aumento do valor real do salário, desvalorizado constantemente pela inflação.  
O sindicalismo classista não vacila em condenar peremptoriamente o capitalismo em sua fase neoliberal e o clássico modo sub-reptício da apropriação privada da riqueza [produzida pelos diversos grupos sociais do mundo trabalho] pelos capitalistas parasitas que nada produzem - a classe dos capitalistas burgueses sanguessugas.   
Essa postura política coerente se constitui como referência para organizar a oposição classista, de modo que diverge frontal e substancialmente da corrente hegemônica liberal burguesa que defende a harmonia de classe para beneficiar a classe detentora de capital e seus status quo de privilégios apresentada pela filosofia utilitarista com a redenção da humanidade e pelos teóricos do capitalismo, particularmente os economistas marginalistas.   
Esse liberalismo [hora social e hora econômico] se expressa ideologicamente pela vocalização dos interesses estritamente burgueses. A base de sustentação teórica do liberalismo é o livre mercado e a teoria da subjetividade (necessidade e desejo) que imputa a si mesma a condição de racionalidade por meio da adoção de métodos matematizados como finalísticos, inserido pelo utilitarismo.    
Essas ciências econômicas deslocou a perspectiva centrada na produção (mão de obra) como valor-trabalho único capaz de produzir riquezas, para a árida subjetividade do livre mercado, alienando a força motriz do trabalho, a luta de classes e projetando exclusivamente o valor de troca [preço] como fonte riqueza. Nesse sentido, o dinheiro iguala todas as rendas [salário e lucro] mascarando as diferentes formas de remuneração entre as classes subsumida na forma de Capital (na forma de investimento capitalista) que passa a assumir como única fonte geradora de riqueza.   
Por que é importante afirmar isso para o movimento sindical classista quando a onda é seguir a ordem "natural" do capitalismo? Porque essa é a centralidade da contradição sistêmica do capitalismo, aquele frágil pé-de-barro que os liberais escamoteiam para ludibriar a classe operária e as populações subalternizadas. A Adusb tem feito o contrapondo [promovendo diálogos, palestra, cursos e atividades de rua] a essa manobra teórica que os ideólogos orgânicos do liberalismo adotaram para mistificar a exploração dos capitalistas burgueses.  
Isso só serve para que os capitalistas burgueses se apropriem indevida e privadamente do resultado final da transformação de uma matéria-prima pela força de trabalho, materializado na forma de mercadoria tangível ou serviço intangível. Um equivalente de materialização do desprendimento físico da docência, na forma de produção intelectual [além de livros u artigos científicos], não seria apenas quando uma pessoas estudante aprendesse a produz artigos científicos, escrevesse a monografia de conclusão de curso ou respondessem satisfatoriamente as provas [também de concurso], mas que aprendesse a dominar e manusear os conceitos categoriais [para abordar fatos e acontecimentos] e empreender quaisquer análises críticas da realidade.   
A imprescindibilidade de um sindicato orgânico da classe operária, no nosso caso a Adusb, não é dada tão somente pelo seu caráter anticapitalista e pela defesa realizável de uma outra sociabilidade, mas também pelo compromisso de construir essa conexão intelectual e a práxis com os movimentos de massas e suas lutas. Essas pautas (antirracistas, anti-fascistas, anti-lgbtqiapfobica, anti-xenofobica, anti-misógina, anti-feminicida e ect.) dos movimentos sociais dão musculatura e a motricidade à organicidade sindical classista tão necessária para derribar o sistema capitalista e sua ordem civil burguesa e construir essa outra sociabilidade: socialismo e comunismo.   
Se essa sociedade burguesa que conhecemos é contraditória porque se ergue e se constitui extraindo a força de trabalho alheia [na forma de riquezas], então temos uma sociedade controlada por quem explora. Isso é tão verdade quanto a inescrupulosa manutenção do status quo que mantem privilégios para alguns poucos brancos no Brasil e a mais absoluta privação material da maioria negra restante.  Afinal, classe operária empobrecida em situação de fragilidade no Brasil é em sua maioria étnica negra e de gênero, sobretudo em sua multiplicidade de orientação sexual. 
Por isso, a crítica mordaz a classe que controla os meios de produção, a circulação de bens e serviços e detém todas as riquezas. Mas não é só isso, pois também organiza a vida material, intelectual e cultural e o absoluto controle ideológico dos grupos sociais na sociedade. E o faz através das leis liberais [como se fosse natural para torná-las inalteráveis] constitutivas que confere poder supremo ao Estado que age como aparelho ideológico a serviços da burguesia com poder coercitivo para reprimir, condenar e exterminar as massas insurrecta.   
Que outra razão teria o liberalismo senão continuar mantendo o status quo e a exploração determinada pelos interesses capitalistas. Nesse sentido, é absolutamente natural para o capitalismo que existam as classes (agentes de produção e os agentes do capital) sem conflitos, mas com uma ideia-força geral de controle que pregue a harmonização entre as mesmas e a condenação da luta de classes.  Nenhuma entidade sindical que negue inexoravelmente esse processo histórico de exploração e expropriação de classe e subalternização das populações merece o respeito e a solidariedade de classe de nenhum movimento de massas no Brasil.   
O que explica a posição crítica da atual gestão da Associação dos Docentes da UESB (ADUSB) frente a inescrupulosa capitulação ideologia neoliberal de alguns setores de esquerda, particularmente contra o subjetivismo racionalista do liberalismo utilitarista de Jeremy Bentham ao neoliberalismo de Friedrich Hayek (1899-1992), Ludwig von Mises (1881-1973) e Milton Friedman (1912-2006). O neoliberalismo, principalmente na perspectiva do mercado, no qual a lei maior é a do "desejo de obter prazer e evitar a dor" (HUNT&LAUTZENHEISER, 2013, P. 108).   
Um argumento liberal anticlassista empreendido inicialmente pelo valor-utilitarista na moderna economia neoclássica, da qual deriva-se o princípio liberal do equilíbrio apregoada pela escola marginalista. Todas as dimensões das múltiplas vivencias humanas se resumem a maximizar prazer e minimizar a dor, essa é a base teórica da utilidade marginal na qual se pretende afirmar que é a utilidade da propriedade dos bens e serviços que proporciona satisfação da necessidade e desejo humano, negando peremptoriamente a teoria do valor-trabalho como produzir de riqueza.   
Esse plus teórico revolucionário vem fazendo com que a ADUSB discuta a importância dos movimentos sociais, por compreender que essas entidades sociais mesmo não sendo classistas, são importantes no processo de luta de classes. A ADUSB opta por contribuir efetivamente com as construções dessas lutas segmentadas para maximizar a força motriz do sindicalismo classista no processo de luta de classes, agudização de contradições do sistema capitalista e no acúmulo de forças para revolução social.   
Por razões óbvias, pois as instituições de classe mesmo sendo atacadas pelo fim da unicidade sindical e a redução de tamanho da base de filiações, ainda consegue contribuir financeiramente com o financiamento de estruturas para que os movimentos sociais desatrelados do Estado, possam construir as lutas sociais.   
Inegavelmente houve alguns movimentos dentro da normalidade capitalista contraditórios, criando cisão no interior do movimento sindical brasileiro que, a meu juízo, tem mais a ver com alguns "equívocos" na análise de conjuntura, em função do processo histórico recente no qual prevaleceu a subsunção de algumas análises pelo liberalismo por parte de alguns segmentos de esquerda, levando-os ao giro de 180º na direção à direita.   
A Adusb tem sido importante ao fazer a crítica a esse movimento que impôs a suas respectivas correntes sindicais uma adequação em suas concepções teórica-metodológicas sindicais hegemônicas (com alguma resistência interna anti-hegemônica), anteriormente forjadas no campo orgânico de esquerda, impondo-lhes inflexões e defecções políticas e sociais que ameaçam a autonomia da classe operária e, em alguma medida, vem  impactando na desorganização e desmobilização dos movimentos sociais que não têm fonte própria de recurso que possa financiar essas lutas, tornando-os aliados táticos das lutas sociais empreendidas pelo movimento sindical.   

0 comments :

Postar um comentário

Buscar neste blog

por autor(a)

Arquivo

Inscreva seu e-mail e receba nossas atualizações: