Translate

Seguidores

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

O Novo Homem para O Novo Mundo

Pintura surrealista do espanhol Salvador Dali,
datada de 1943
*por João Paulo Pereira

A cada dia estou mais convencido de que a grande responsável pelo sucesso do capitalismo é a ideologia burguesa. Entende-se por ideologia burguesa as ideias e representações sociais simbólicas predominantes na sociedade organizada para reprodução do capital, portanto em suas múltiplas fases capitalistas. A ideia reinante é produto dessa relação de dominação de uma classe social detentora do capital (burguesa) sobre a classe social detentora da força de trabalho (classe trabalhadora e populações subalternizadas).


Na medida em que a carruagem da história do capital foi avançando, foi se transformando em uma cultura universal do capital, num contínuo movimento de conformação mutatis mutandis para exercer o controle da sociedade civil burguesa capitalista. Sem ela, o capital não teria resistido por tanto tempo e não se manteria no poder até este momento da história humana.

Ela atinge especialmente os membros da classe média, que do auge de sua pequenez intelectual se consideram os mais preparados entre a classe que vive do trabalho. Professores, médicos, engenheiros, advogados, administradores, contadores, pequenos e médios comerciantes e outros tantos produtos das universidades e descendentes do famigerado coronelismo do século XIX, que deixa tentáculos até este nosso século XXI.

Estes setores formadores de opinião da classe média são responsáveis pelo alto grau de alienação social a que está submetida à sociedade brasileira. E por ser um setor social completamente obtuso (inclusive os setores que se veem como intelectualizados), a observar o mundo do cume de um altar soerguido pela vaidade da impostora meritocracia, julgam a todos como se fossem os donos de toda a verdade histórica.

Quando jovem li em um livro que muito me ajudou a compreender esse mundo, "Capitalismo para Principiantes" de Carlos Eduardo Novais e Vilmar Rodrigues. Os autores mostram que o intelectual do século XX e essa realidade ainda se mantêm neste início de século XXI. Um tipo de sujeito ensimesmado que julga arbitrariamente o mundo a partir do seu próprio umbigo.

Lembro-me que o autor coloca isso da seguinte forma: "se o mundo não se encaixa em minhas teorias, é porque o mundo está errado". E é exatamente assim, que os pensadores da classe média compreendem a vida. Eles traçam o mundo ideal em suas mentes e saem medindo a tudo e a todos com mesma régua.

O problema se torna ainda mais grave no Brasil porque este germe da autoproclamação à condição de pseudopensador contaminou toda a sociedade brasileira. Aliás, hoje qualquer indivíduo que lê acriticamente um site de internet se autoproclama pensador e quer fazer debate. Qualquer indivíduo que assisti o jornal nacional ou o jornal da TV fechada se comporta dessa forma autossuficiente. A Record ou SBT, ou leem as velhas "revistas semanais” se sente em condições de discuti sobre qualquer assunto sem nenhum aprofundamento teórico. É uma sociedade de velhos Adãos que se acham novos intelectuais.

Esta galera não se dá conta de que não há uma verdade única sobre os fatos históricos, sobre o mundo, sobre as pessoas, sobre a vida. Eles não conseguem enxergar para além do próprio espelho. Este é mais um dos dilemas culturais da modernidade que nossa sociedade não conseguiu superar. A perspectiva cartesiana, durkheimiana e positivista continuam sendo à base racional do pensamento humano, mesmo daqueles que se veem como pretensos pensadores de esquerda.

Analisam as ciências humanas e sociais pelo mesmo método que analisam as ciências da natureza ou as ciências exatas, não conseguem nem ser webberianos. Não conseguem analisar a história nem pela perspectiva do materialismo dialético de Marx, nem na perspectiva Cristã. Refiro-me à passagem do Evangelho de Jesus Cristo, quando fala da transfiguração de Jesus, (Mc 9,2-13), e nos convida a nos transfigurarmos, passando da condição do "velho Adão", para um "novo Adão" transfigurado pela capacidade de "amar em plenitude".

O pior que essa gente está em todos os espaços sociais, participando nos movimentos sociais, no sindicalismo, nos partidos políticos, nas instituições da sociedade civil organizada, nas igrejas e nas religiões e nas forças armadas. Ou seja, "estão rolando os dados" e dando as cartas. Como transformar uma sociedade que tem como protagonistas essa gente?

Complicado o processo de transformação da sociedade, sobretudo a partir deste setor social. É fundamental que nós seres humanos, passemos definitivamente por uma verdadeira transfiguração, nos tornemos novos homens, novos seres, ou condenaremos a vida colocando em risco a própria existência humana.

De fato, o mundo novo só será construído no dia que superarmos esta decadente condição humana. Só assim vivenciaremos a transfiguração do velho Adão, para o novo Adão, sem isto estamos condenados e condenando a história humana. Como um ser forjado pelo ódio, pode construir um mundo de amor? Impossível, por isso é fundamental que comecemos agora nossa transfiguração. A superação total disto que foi feito da humanidade, em um novo ser, forte o bastante para amar plenamente.

0 comments :

Postar um comentário

Buscar neste blog

por autor(a)

Arquivo

Inscreva seu e-mail e receba nossas atualizações: