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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
O Ser e o Agir petista do 'andar de cima'...
fevereiro 12, 2016
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Vinícius...
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"A ascensão de novos grupos no poder e as reformas políticas adotadas pelos governos do PT trouxe um quadro de apaziguamento das lutas de classe que acreditavam estar sendo atendidas pelas parcas políticas compensatórias e assistencialistas que este governo implementou."
Por Prof.ª Arlete Ramos dos Santos[1]
Concordo com as análises e contribuo observando que o Ser e o Agir do que "se diz esquerda petista do andar de cima", na atualidade, faz parte de uma nova forma de organização social oriunda principalmente da atual crise econômica do capital, pois o excedente produzido nas relações entre capital e trabalho chegou ao seu esgotamento de forma que não está encontrando possibilidades de investimentos para se valorizar e recompor as suas margens de lucro, criando-se a estagnação e a crise.
Nesse cenário, acirram as contradições de classe, no qual a burguesia tem aproveitado ideologicamente para impor um conjunto de medidas que expropriam os trabalhadores das formas de reprodução da sua existência. Para Agirem benefício da burguesia, o Estado aplica o ajuste fiscal que retira os recursos públicos que seriam destinados para a população, e os utiliza para suprir as necessidades de acumulação do capital.
No Brasil, o século XXI entra em cena com várias mudanças no cenário político e econômico, tanto na forma de atuação do capital hegemônico da classe dominante, quanto na luta para uma contra-hegemonia na classe trabalhadora. A ascensão de novos grupos no poder e as reformas políticas adotadas pelos governos do PT trouxe um quadro de apaziguamento das lutas de classe que acreditavam estar sendo atendidas pelas parcas políticas compensatórias e assistencialistas que este governo implementou. Na perspectiva gramsciana, nesse contexto o Estado se constitui como um complexo de atividades práticas e teóricas nas quais a classe dirigente justifica seu domínio e mantém o consentimento dos governados. (GRAMSCI, 2005).
Essa estratégia do capital trouxe um cenário de otimismo, sendo disseminada uma ideologia de conformismo na perspectiva de que o país estava crescendo e que, portanto, estava longe da crise mundial sociometabólica do capitalismo transnacional. Em 2012 o ganhador do prêmio Nobel de economia, Paul Krugman, analisa que o contexto brasileiro viveu um período de crescimento econômico no início dos anos 2000, associado à redução da desigualdade social, com políticas como o Bolsa-família e a melhoria nos níveis de educação. Mas acrescenta que se deve ter cuidado com a migração dos investimentos do eixo Norte/Sul, pois apesar de o mercado estar acreditando e investindo no Brasil, na última década do século XX, esses investimentos eram creditados para a Espanha e a Grécia, e atualmente estes dois países estão no epicentro da crise mundial capitalista[2].
Essa assertiva profetizada pelo economista também tem sido analisada pelos intelectuais progressistas, para os quais a política (neo)desenvolvimentista, adotada nos governos do PT é um produto da socialdemocracia capitulada na Europa, e que no Brasil adotou o projeto conservador neoliberal por falta de um projeto desenvolvimentista alternativo de Estado, e por isso se constituiu em um resignado operador das políticas da burguesia monopolista e do imperialismo. (PINHEIRO, 2012).
Essa nova fase da política econômica brasileira, conhecida também como “lulismo” se caracteriza por superar a estagnação das três décadas anteriores por meio de uma pequena recuperação do poder aquisitivo do salário mínimo acompanhada de uma lenta melhoria na distribuição de renda, crescimento do consumo influenciado pelas políticas de endividamento das famílias brasileiras, políticas assistencialistas, além da crença disseminada de que o Brasil estaria imune às crises econômicas enfrentadas no contexto internacional, vivendo então uma fase de desenvolvimento.
O lulismo seria caudatário do “conservadorismo popular”. Identificado como um governo de modernização conservadora. Dialoga abertamente com organizações, sindicatos, mas os incorpora ao Estado a partir de políticas específicas, fundadas em convênios e parcerias, algo que se aproxima da tutela, já que não incorpora efetivamente esses atores sociais na formulação de políticas públicas, pois estas, geralmente são formuladas pelos técnicos. Lula é apenas um dos personagens do lulismo. (RICCI, 2010).
Para sustentar essa política do capital, no contexto internacional, na primeira década do século XXI, o Brasil se inseriu nos organismos internacionais, a exemplo da Organização das Nações Unidas - ONU, não como defensor dos movimentos sociais, mas para proporcionar a abertura de mercados à burguesia nacional e internacional no país, a qual para aumentar os seus lucros busca avançar para outros espaços ainda não totalmente dominados, como os países pobres da África[3]. Pois corroborando com Marx (2008), a taxa de lucro é mais baixa nos países ricos e mais alta nos países pobres.
Esse projeto de país que se adéqua aos moldes dos abutres do capital é proveniente de um imperialismo federalizado a serviço da burguesia que no plano externo faz parte da dinâmica capitalista radicalizada na “mundialização do capital e financeirização da economia” (CHESNAIS, 2005), que para implementá-la garantiu no plano interno a uma parcela da aristocracia operária e ao sindicalismo dos fundos de pensão, a gerência do Estado, e que por fazerem parte do sistema, estes têm servido ao partido da ordem auxiliando na execução de uma ofensiva neoliberal contrarrevolucionária necessária para que a burguesia conservadora mantenha a sua hegemonia[4]. Ou seja, os seus funcionários são os subalternos da classe dominante e dirigente que estão a serviço da formulação, adaptação e difusão das teorias que fundamentam o (neo)desenvolvimentismo.
Essa pedagogia da hegemonia (NEVES, 2010) se efetiva na medida em que estabelecem um consenso generalizado de que o aparelho do Estado não pode estar presente em todo o tempo e espaço, sendo necessária a ação da sociedade civil por meio de ações sociais, e nesse contexto se insere os movimentos sociais. Para isso, faz-se necessário um realinhamento ideológico de teorias e forças políticas nas relações sociais e de poder. No plano político concilia mercado com justiça social; no plano teórico são antimarxistas, buscando a opção da socialdemocracia, constituindo uma direita para o social e uma esquerda para o capital. (Idem)
[1]Pós-doutoranda em Educação e movimentos sociais do campo pela UNESP, possui graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (2002), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2010) e doutorado em doutorado em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2013). Atualmente é professora adjunta da Universidade Estadual de Santa Cruz, atuando na graduação e pós-graduação. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação do campo, Movimento Sem Terra, gestão, políticas educacionais e movimentos sociais do campo. É membro da equipe de professores do Programa de Pós-Graduação em Educação Básica da UESC e faz parte do Colegiado estadual do Pronera.
[2] Salientamos que as crises econômicas e política resultantes desse modelo foram acirradas no Brasil, principalmente, a partir de 2015
[3]Em entrevista à Rede Globo, o Deputado Eduardo Cunha, envolvido em esquemas de corrupção no segundo governo de Dilma, afirma que fez investimentos na África. Veja em: JORNAL DA REDE GLOBO, edição do dia 06/11/2015: http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2015/11/eduardo-cunha-fala-sobre-acusacoes-de-corrupcao-e-lavagem-de-dinheiro.html. Acesso em: 1211/2015.
[4]“O exercício da hegemonia para Gramsci (1999) é sempre uma relação pedagógica que busca subordinar em termos morais e intelectuais grupos sociais inteiros por meio da persuasão e da educação”. (NEVES, 2010, p. 24).
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