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quinta-feira, 10 de julho de 2014
UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A COPA DO MUNDO NO BRASIL
julho 10, 2014
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por
Vinícius...
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João Paulo Pereira é professor graduado em História pela UESB, militante, intelectual, desportista e compositor. |
"Essa situação não é privilégio da copa do mundo, mesmo os campeonatos nacionais, regionais, estão submetidos a está lógica nefasta, pois sucumbi tudo às necessidades do mercado, aos ditamos da “mão invisível de Adam Smith”, aqui no Brasil, por exemplo, a Lei Pelé"
* Por João Paulo Pereira
No período que antecedeu a copa do mundo, busquei combater as muitas críticas estabelecidas pela ideologia burguesa, que mesmo os setores mais conscientes de nossa sociedade se viram compelidos a fazer a defesa do discurso pronto imposto pelos meios de comunicação de massa, que claramente com fins eleitorais, jogou o povo contra o governo do Partido dos Trabalhadores. Neste período ao mesmo tempo em que desenvolvi um discurso ufanista, procurei fazer um debate qualificado sobre a importância da realização da COPA DO MUNDO, aqui no Brasil, tanto do ponto de vista econômico, quanto social, cultural e esportivo, não busquei fazer um debate também eleitoral, pois não considero que o resultado do evento seria condição sine qua non, para o resultado das eleições que também acontecem no ano corrente, o discurso que se seguiu de que o resultado da copa é fundamental para as eleições é parte do discurso ideológico que foi imposto pela nossa mídia corporativa.
Mas não dá pra fechar os olhos para os problemas apontados pela COPA DO MUNDO NO BRASIL, um problema que deveria ser palco das críticas mais radicais da nossa esquerda e da esquerda mundial, que é um problema claro do capitalismo atual, que transformou tudo em uma mercadoria, exposta nas prateleiras da história, com um objetivo de gerar lucro a todo custo não se importando com os resultados sociais, culturais e os problemas decorrentes disto para a humanidade.
Diante do disposto acima, o futebol não ficou fora da prateleira, bem como a música, as artes de forma geral, a vida humana e tudo que vive sobre a terra. Desde os anos 80 do século passado, que percebemos claramente mudanças na forma de lidar com o esporte e isso aconteceu rapidamente em todo o planeta, a partir da Europa, o berço da civilização ocidental, da mesma forma que o capitalismo dominou o planeta no século XIX.
De repente o esporte mais praticado do mundo, que despertava as paixões de torcedores por toda Terra, que fazia um atleta jogar pelo amor ao clube, que antes de ser jogador era torcedor. Passou a ser uma grande máquina de produção de riquezas, claro que como tudo dentro do capitalismo, essa riqueza poucos, mas com resultados muito rápidos para o enriquecimento destes “abençoados”. E é nesta lógica que o futebol se desenvolveu pelos anos 90 do século XX e ainda hoje continua a se desenvolver.
E, sobretudo, a copa do mundo, desde muito tempo, perdeu inocência do esporte como espaço de todos, como um evento ingenuamente esportivo, que despertavam as paixões de milhões, ou bilhões pelo planeta. Hoje até desperta as paixões e isso é a única coisa que restou do velho futebol mundial. Na realidade a FIFA e seus associados, as grandes empresas transnacionais e multinacionais que perceberam o potencial econômico deste evento e resolveram transformá-lo em um negócio rentável, onde estas empresas fazem grandes investimentos, mas com a certeza de que isso terá um retorno financeiro rápido e efetivo para os cofres destes investidores.
Para garantir este retorno financeiro rápido, vale o investimento em atletas que sem os recursos destinados a sua promoção individual seria mais um jogador de uma equipe que representa uma nação, a alegria de milhões, do desejo contigo de soltar o grito de campeão de um evento como a copa do mundo. Ao contrario estes superatletas, ganham um espaço privilegiado na grande mídia mundial, claro que sob o pilar do “jabá” pago pelos seus patrocinadores, anualmente disputam um concurso, que os elegem melhores do mundo, claro que o critério fundamental é o acordo feito entre as grandes empresas patrocinadoras e a quantidade de investimentos feito no atleta, em segundo lugar vem à qualidade técnica destes atletas, e aí o que ganhou mais espaço midiático sagrasse vencedor. Não quero fazer juízo de valor sobre nenhuma atleta, claro que para despertar o interesse dos patrocinadores estes atletas têm que demonstrar alguma qualidade, mas certamente não são excepcionais como jogadores neste momento histórico em que vivemos.
A mesma lógica funciona para a Copa do mundo e as seleções participantes, é claro que o país que se sagrará vencedor é aquele que tiver a possibilidade de mais lucro para os patrocinadores destas seleções e do evento, por mais que gostemos do futebol como eu que sou apaixonado pelo esporte e tantos outros bilhões de apaixonados pelo mundo, não dá pra não perceber o submundo do evento, quando se tem algum conhecimento da realidade social, econômica e cultural que nos envolve neste início de século XXI. Ninguém faz investimentos só por amor ao esporte, à necessidade de geração de lucro para o mercado é algo incondicional para estes investimentos é a lógica do modo de produção capitalista.
Essa situação não é privilégio da copa do mundo, mesmo os campeonatos nacionais, regionais, estão submetidos a está lógica nefasta, pois sucumbi tudo às necessidades do mercado, aos ditamos da “mão invisível de Adam Smith”, aqui no Brasil, por exemplo, a Lei Pelé, mudou radicalmente a condição de nosso futebol, submetendo os clubes de futebol aos interesses do mercado, tirando dos clubes o estatuto de protagonista e dando a alguns jogadores essa condição. Atualmente a legislação do futebol tirou o direito do clube ganhar dinheiro investindo na produção de jogadores ou na formação de base, pois esses podem ser comercializados por seus agentes ainda nas divisões de bases de qualquer clube de futebol brasileiro, muitas vezes o atleta é comercializado a revelia da direção do time de futebol que ele atua, pois a lei garante a este o usufruto do seu trabalho, na prática parece correto, mas se esquece, por exemplo, que foram feitos investimentos neste atleta e que o clube de futebol é patrimônio também de sua torcida.
Outro problema é que os prováveis campeões de campeonatos serão sempre aqueles que fizerem maiores investimentos para a disputa deste campeonato. Para que seja feito os investimentos, o clube terá que ter a capacidade de garantir acordos financeiros com patrocinadores, que por sua vez, quer de volta o retorno financeiro dos investimentos feitos. O que definiu no futebol brasileiro times de primeira categoria, de segunda e de terceira, balizados pela quantidade de torcedores de cada clube. O critério é sempre o mesmo, a quantidade de riquezas que serão produzidos pelo clube.
Esta lógica meramente comercial do futebol desenha um quadro desolador para o futuro do esporte. Temos como exemplo do que acontece na Europa atualmente, os grandes clubes europeus, são na verdade um amontoado de jogadores estrangeiros, não há investimento na formação de atletas, ficando suas seleções dependentes do aparecimento de alguns poucos jogadores diferenciados que surgem periodicamente, para superar a ausência de grandes jogadores os treinadores europeus passaram a desenvolver esquemas táticos que possam superar a ausência de talentos individuais, nasceu um futebol feio, sem graça, mas taticamente eficiente o que vem se transformando em um padrão mundial. Mesmo na América Latina onde o futebol sempre foi praticando com graça e com arte, percebemos o fenômeno da falta de talentos individuais, não vemos mais o surgimento de craques como em um passado recente. Até mesmo nos países Africanos, aonde nos últimos anos vimos surgir um futebol bonito, jogado com graça e maestria, até com certa irresponsabilidade agradável, a hegemonia do estilo europeu prevaleceu.
Mas agora vamos falar especificamente desta COPA NO BRASIL, a falta de qualidade técnica é visível, salvo raras exceções, representada por alguns poucos jogadores que ousaram jogar um bom futebol, e podemos citar com exemplo a seleção Colombiana, e jogadores pinçados em algumas seleções, vimos uma preocupação extrema com os esquemas táticos, em sua maioria defensivos, sem investimento em criatividade, com jogadores especialistas em marcação e pouquíssimos jogadores habilidosos.
A seleção Brasileira diferente das outras a preocupação era só econômica, formou-se uma seleção, a partir da necessidade dos patrocinadores, na verdade esquema que a CBF vem fazendo há muito tempo, com o aval da grande mídia (PIG), que o tempo todo cumpre o papel de criadora de ídolos de barro e tirando do cenário, jogadores que não estão nos planos destes patrocinadores. Vou citar dois exemplos até para provocar reflexão e discussão: Diego, Robinho e Cacá, surgiram no mesmo momento, os dois últimos caíram nas graças de alguns patrocinadores, chegando rapidamente a seleção brasileira e aí o PIG rapidamente tratou de apagar a imagem de Diego, durante muito tempo este atleta desapareceu dos noticiários nacionais a não ser quando fazia uma grande jogada ou um gol decisivo jogando no futebol Alemão.
Outro exemplo é mais recente, Neymar, Ganso e André iniciaram a carreira profissional juntos na equipe do Santos, com muito sucesso, juntos fizeram o espetáculo, jogaram um futebol de grande qualidade, sendo campeões: do campeonato paulista, brasileiro, libertadores da América. Rapidamente o Neymar caiu nas graças de grandes patrocinadores e o PIG procurou rapidamente apagar a imagem dos outros dois. Alguns desavisados podem afirmar isso acontece por que os jogadores que fazem mais sucesso são melhores e aí os patrocinadores investem por que sabe que terão retorno financeiro, o que é uma leitura correta. Mas infelizmente não funciona assim o mercado.
Na realidade o que determina o interesse dos patrocinadores é a ação dos agentes de cada atleta e ai aquele que tiver mais recursos para garantir o investimento no atleta vai determinar o crescimento do seu pupilo, mais uma vez é o velho esquema do “Jabá”, se tem condições de fazer o investimento certamente terá mais retorno financeiro, a velha lei do mercado determinando até quem vai se tornar craque ou não no futebol.
E esta lógica prevalece também na escolha dos nomes que vão representar o futebol brasileiro na seleção, o critério adotado pela CBF é o mesmo do mercado, os patrocinadores que pagaram mais terão seus atletas na seleção brasileira, há muito tempo que tem sido este o critério de convocação da seleção deste país e de outros também, sobretudo, na América Latina, só pra ilustrar, a Argentina nesta copa do mundo tem um meio campo horrível, sem nenhuma qualidade técnica, e deixou fora do time Carlos Tévez, Dário Conca, Andrés D’Alessandro, nos forçando a ver um time totalmente dependente do Lionel Messi.
A Seleção Brasileira convocada para a copa 2014 seguiu o mesmo esquema de escolha dos atletas, haja vista, que foram convocados oito jogadores para o meio campo, todos de marcação, e nenhum jogador de criação, pois estes não têm patrocinadores de peso, só a CBF não se deu conta de que o Oscar não é jogador de criação, e muito menos o Willian, que em lugar algum que jogou era visto como um homem de criação para o meio campo. O resultado é e que pagamos caro, e ponha caro nisto, pelo descaso com nosso futebol e pela submissão do esporte a lógica do mercado.
O nosso técnico provou a sua incompetência, já havia sido assim quando dirigiu a seleção em 2002 quando sagramos campeões mundiais, ou melhor, penta campeões, jogamos com um time horrível tecnicamente e taticamente, sem nenhum esquema tático definido, era os onze em campo jogando cada um por si. Não está sendo diferente na COPA DO BRASIL, montaram um time para promover o Neymar, deram todas as funções para ele, que de fato é um bom jogador, mas só isso, não se definiu o time taticamente, tecnicamente já era um time montado com jogadores médios, nada de excepcional nos nossos atletas. Mas o Felipão foi escolhido por que faz parte dos esquemas financeiros da CBF e aceita qualquer coisa, por isso a preferência da entidade maior do futebol brasileiro por este Senhor.
E o resultado disto está aí, perdemos a copa do mundo de forma melancólica, claro que isso não significa nenhuma tragédia para o país, depois da derrota e da tristeza do nosso povo e dos torcedores, tudo volta normalidade, o povo já começa a pensar e discutir quem deve substituir o Felipão, que jogadores poderão somar a este grupo pra reforçar para os próximos eventos esportivos que o Brasil participará. Claro que agora a oposição política utilizará a derrota eleitoralmente, mas isso não interferirá definitivamente nas eleições e nem na vida social, política e econômica do país, teremos os bobalhões de sempre especulando com os discursos prontos da direita nacional, transmitido em cadeia nacional pelo PIB, mas nada de muito intenso. Mas ficará sempre para aqueles que praticam, vive, amam o futebol a mácula desta derrota provocada pela intervenção do mercado capitalista em questões que deveriam continuar sendo apenas esporte, apenas um aspecto importante da cultura do povo brasileiro.
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