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terça-feira, 19 de novembro de 2013

UMA PÁGINA NA MINHA VIDA: PERSEGUIÇÃO, PRECONCEITO E CONQUISTAS NA LUTA


* Por Edgar Borges 


Vitória da Conquista, 13 de novembro de 2013.

Nesta semana, em pleno novembro negro, fui instigado a refletir e lembrar-se de uma página que passou em minha vida no exercício de minhas atividades enquanto servidor municipal. E, antes de ir para a lembrança, pergunto, há racismo institucional no governo municipal?


Pois bem, passado 18 anos, minha memória avivada traz essa página que tanto marcou minha vida. Por um lado a perseguição e intimidação tentava barrar a militância em torno de ideais na luta. Era o ano de 1995, entre os meses de agosto e novembro, que antecedia a eleição do Sindicato dos Servidores Municipais, realizada em dezembro daquele ano. No mês de agosto, depois de uma representação sindical significativa para os servidores lotados na Secretaria de Finanças da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, além de uma gestão exemplar na Tesouraria do SINSERV, mesmo sem ser liberado, meu nome foi indicado para encabeçar a chapa da Diretoria do Sindicato como presidente.

 Foi neste momento, final de agosto e início de setembro de 1995 que as intimidações começaram. Como servidor lotado na Contadoria Geral, técnico em nível médio com formação em contabilidade, responsável por serviços como o conta corrente, o razão, os empenhos por estimativa, fechamento de balanço e folha de pagamento, em sumo, acesso a toda documentação reveladora das ações de um gestor. E, dentre as motivações pela colocação à disposição, minha chefa D. Mércia foi a primeira a alertar, comunicar e até aconselhar que devesse rever minha posição pela responsabilidade que o setor propiciava. Alegava ainda que mesmo sabendo da capacidade e honestidade a minha investida na política sindical confrontava com os interesses do governo. Outros motivos que Mércia  alertou foi quanto à família; e por certo, naquele momento meus filhos  eram menores de dois anos e as responsabilidades familiares com o baixo salário que a prefeitura pagava foi alertado por ela. Mesmo assim não recuei e mantive minha posição. Resultado veio, depois de 08 anos como servidor municipal, mesmo antes ter exercido a função de Gari e de Almoxarife I na merenda escolar, fui pela primeira vez, COLOCADO A DISPOSIÇÃO DO SECRETÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO EM SITUAÇÃO DE INTIMIDAÇÃO/PERSEGUIÇÃO.

Esta situação foi constrangedora e muito dolorida quando tive que afastar impiedosamente antes de acontecer à eleição; mais também foi pensada e decidida pessoalmente, visto que defender a categoria dos servidores era meu objetivo. No entanto, 03 três meses antes do previsto, à disposição enfrentei o secretário de administração. Este, o Sr. Vicente, também tentou em suas palavras reverter e desencorajar o que eu já havia determinado. Nas palavras houve ameaças de corte de salários, demissão e aconselhamento. Não temi e mais alertei sobre direitos quanto às normas sindicais e que em edital e inscrição de chapa, concorria à eleição, portanto a administração não poderia transferir ou retirar direitos, perseguir politicamente. RESULTADO, O SECRETÁRIO DECRETOU QUE NÃO PODERIA RETORNAR A CONTABILIDADE E QUE A PARTIR DAQUELE MÊS EU IRIA EXERCER MINHAS FUNÇÕES NO LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLINICAS NA SECRETARIA DE SAÚDE.
Nesta nova atribuição, mesmo não compatível com a função, fui bater exames de fezes, sangue e entregar resultados dos exames do laboratório municipal que existia no fundo da Secretaria de Saúde. Foram 03 meses em que não tive contato com secretário (parece que era Dr. Uagnis) e a coordenadora (acho que a sra. Mônica Achy), porém lembro muito bem do bioquímico (dr. Ubirajara Cairo) e dos técnicos (seu Arnaldo e Moarene) e da colega que entregava e datilografava os exames (Marlene). Mesmo com as dificuldades de entender e ler os exames patológicos e laboratoriais, foram três meses de experiência e que após a eleição do SINSERV, com a posse no final de dezembro/95, deixei colegas e uma experiência que até hoje carrego; que mesmo  com essa “humilhação” imposta e se assim poço dizer “perseguição” foi um aprendizado e que hoje reflito: será que tudo isso teve além das questões políticas, outras motivações como as de questões raciais? Ou foram coincidências e consequências da conjuntura?
Agora, com um olhar para o outro lado, foram momentos importantes que marcaram minha vida. Não submeti as intimidações, ao preconceito e mesmo tendo que abrir mão das relações pessoais e acometer dificuldades aos familiares; poço dizer e lembrar hoje que ao ser COLOCADO A DISPOSIÇÃO POR PERSEGUIÇÃO E OU INTIMIDAÇÃO teve resultados importantes para a coletividade dos servidores municipais - a história do Sindicato dos Servidores Municipais ficou marcada com minha gestão após o relato dessa página de lembranças. E, pessoalmente na minha ficha funcional e profissional não aparecer em nenhum momento faltas, suspensão, inquérito administrativo ou malversação do erário público neste mais de 26 anos de vida como servidor público municipal. Colocado a disposição por qual motivo? Deixou de realizar as atividades atribuídas? Abandono e afastamento das funções? Que resposta?

Portanto, fica aqui esse apontamento, que hoje, 13 de novembro de 2013, em pleno mês que rememoramos a luta contra o racismo e o preconceito fui incitado a descrever esta página de minha vida, vivenciado, neste mais de 26 anos dedicados a servir a população conquistense com serviços nas áreas de: limpeza pública, abastecimento e distribuição de merenda nas escolas municipais, serviços contábeis para assegurar a gestão municipal aprovação das contas públicas, defesa dos direitos e melhorias para os servidores municipais, preservação das áreas ambientais do município, estudos e elaboração do planejamento urbano, mobilização da população para a gestão do orçamento público, coordenação das ações de moradia e habitação às famílias de baixa renda, atuação e incentivo ao controle social da população junto fiscalização aos recursos públicos.  Foram esses serviços que enriqueceram e trouxeram para mim este curriculum público sujeito ainda a ser colocado à disposição sem porque e para que.  

Edgar Borges – Servidor Público da Prefeitura de Vitória da Conquista

Um comentário:

  1. Sinceramente não vejo nenhum preconceito racial nos fatos e sim degraus que você foi subindo de maneira gradativa.
    Note que chegou a presidência do SINSERV,mostrando assim que entre os servidores não havia preconceito,depois assumiu cargo de confiança no governo,prova que tb não havia preconceito no governo.Portanto,vejo sua historia como degraus de uma longa escada que com certeza ainda não chegou ao fim.
    Lembre se de uma coisa.Na maioria das vezes,o preconceito está em nossa cabeça e sobre perseguições,vc pode ver Mazinho,clovis Carvalho,Almir Pereira,Wilton Cunha,Sergio Carvalho,você,o proprio Sonca e muitos outros que mim passaram no momento e nada tem a ver com preconceito racial e sim,fins politicos mesmo.
    Abraços e vamos a luta,que ainda não terminou.

    Ubiraney soares Mendes (joca)

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