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sexta-feira, 29 de março de 2013
A FILOSOFIA E O ENSINO – DA PRÁTICA À PRÁXIS
março 29, 2013
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por
Vinícius...
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* Por Karla Samara dos Santos Sousa
Resumo: São inúmeros os problemas aos quais o processo educacional está envolto. È crescente o rol de questionamentos que se fazem a marginalização da sociedade como resultado dá má formação dos jovens, adolescentes e crianças. Muitos vêem exacerbada uma crise educacional resultado de ideologias que silenciam consciências críticas e ativas. Entretanto, vale salientar que esta é apenas uma visão pessimista acerca da educação; no tocante ao seu verdadeiro intuito, ela objetiva a autonomia do homem, afim de que este possa assumir um papel de extrema relevância perante a sociedade em que vive. Assim surge a Filosofia dentro do contexto educacional, partindo da reflexão para a prática transformadora propriamente.
Palavras – Chaves – Filosofia. Ensino. Educação.
Filosofia, educação e Ensino Médio.
Considerando a prática educativa de extrema relevância para o processo de socialização e humanização entre os indivíduos, volta-se a ela toda atenção pela sua complexidade. A educação faz parte do cenário evolutivo da humanidade, abarcando várias áreas de formação, como bem estabelece as diretrizes e bases da educação nacional:
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
Nesse sentido, uma de suas estratégias maiores foi sistematizar o processo educacional em três níveis de ensino: o Ensino Fundamental I e II, o Ensino Médio e o Ensino Superior. Os dois primeiros constituem o que chamamos de “educação básica”. Amiúde nos deteremos neste trabalho a sua etapa final: o Ensino Médio.
As premissas que norteiam sua prática pedagógica estão voltados prioritariamente ao desenvolvimento de habilidades e aptidões psíquicas, sociais, motoras e tecnológicas que servirão no decorrer do tempo para a formação profissional e exercício da cidadania dos educandos.
O Ensino Médio visa em seu processo de ensino-aprendizagem “consolidar conhecimentos anteriormente adquiridos, preparar o cidadão produtivo, implementar a autonomia intelectual e a formação ética; e ainda, contextualizar os conhecimentos segue alguns parâmetros que norteiam seu andamento” (CARNEIRO, 2009, p.116.). E não obstante, propõe a construção de um currículo dinâmico pautado na necessidade de incentivar a criatividade dos educandos em harmonia com a aquisição dos novos conhecimentos; donde resulta em sua disposição a presença de eixos curriculares específicos que ao final tornam-se interdisciplinares e contextualizados. As áreas trabalhadas assim se apresentam:
a) inguagem, Códigos e suas Tecnologias integram as disciplinas de Língua Portuguesa, Artes, Língua(s) Estrangeira(s), Informática e Educação Física;
b) Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias – integram as disciplinas de Física, Química, Matemática e Biologia;
c) Ciências Humanas e suas Tecnologias. integram as disciplinas de Filosofia, História, Geografia e Sociologia.
Aparentemente há um equilíbrio notável, na distribuição das disciplinas dentro da matriz curricular, o que demonstra a existência de uma coerência a ser seguida. É isso que saberemos ao final do nosso estudo.
Conforme atesta a LDB- Lei de Diretrizes e Bases faze-se necessário uma disciplina que priorize o desenvolvimento do pensamento crítico e autônomo, a formação de valores e o exercício da cidadania. Esta pelos referenciais circunscritos denota o próprio “fazer filosófico”.
“Pelo estudo da Filosofia, o estudante vai penetrar na natureza da realidade e da significação dos seus códigos, vai compreender as condições efetivas da construção do ser histórico, vai penetrar criticamente no mundo do conhecimento e em toda a sua estrutura axiológica e vai, por fim, equipar-se de instrumental ético imprescindível para o estabelecimento das possibilidades e dos limites humanos” (CARNEIRO, 2009, p 120)
Evidentemente trata-se processo crucial, pois envolve a construção de ideias e atitudes a partir da resposta do educando e suas vivências. A cada passo dado, surge um novo aprendizado. O fator importante nesse caso é a interpelação da subjetividade do educando como algo essencial à maneira de lidar com os conhecimentos. Ao aprendiz filósofo deve ser cultivado o desejo pelo saber, jamais a mera transmissão de conceitos. O objetivo aqui sustentado é à distância dos formatos clássicos de ensino; mas torna-se premente cada vez mais a emancipação do educando, o que não impede a utilização de métodos legítimos para o filosofar.
Com isso a implementação de novas disciplinas, no caso da Filosofia, que além de rechearem a disposição da matriz, tem a tarefa de formar verdadeiros agentes compromissados com a realidade social. Para isso se faz pertinente observar a postura docente como afirma Paulo Freire:
“minha presença de professor, que não pode passar despercebido dos alunos na classe e na escola, é uma presença em si política. Enquanto presença não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho (2007, p.98)
É compreensível a todos que a educação brasileira está envolta a muitas diversidades e assim sendo, o ensino de filosofia no nível médio ganha um arsenal de perspectivas. Temos escolas com características bastante heterogêneas outras bem congruentes marcadas pela violência, pela invasão das novas tecnologias de comunicação, por estruturas familiares contestáveis, etc. Todos esses fatores pesam quando se envolve o ensino. Evidentemente esta não teria um fim salvífico, nem resolveria todos os problemas, mas por seus pressupostos elementares, mostraria uma nova visão de mundo.
Outro ponto de reflexão é a permanência destes jovens na escola. As maiorias das disciplinas do currículo do Ensino Médio ainda prendem-se a objetivos utilitaristas do que de significado, não evidenciando ao educando a importância daquele conteúdo para suas vivências. Neste simples argumento, ver-se proeminente o valor que se tem o conhecimento filosófico para a educação, pois somente ele se alicerça nestes referenciais.
Assim enumeramos algumas questões fundamentais: quais as bases motivadores que as instituições de ensino oferecem para que seus jovens se vejam tragados pela construção do conhecimento? Será que a prática educativa age mais por exclusão do que por inclusão quando fomenta apenas o que é útil, prescindido os verdadeiros anseios do educando? Em suma, os jovens descompromissados com seu aprendizado por motivos que a prática educativa desconhece são de imediatos deixados de lado; a velha democratização cai de novo por terra. Assim afirma Kuenzer, que, “a escola público do ensino médio só será efetivamente democrática quando seu projeto pedagógico, sem pretender ser compensatório, propiciar as necessárias mediações para que os menos favorecidos estejam em condições de identificar, compreender e buscar suprir ao longo de sua vida, suas necessidades com relação à participação na produção cientifica, tecnológica e cultura”. (KUENZER, 2007, p. 43).
O processo ensino-aprendizagem deve ultrapassar o espaço das paredes da escola e interagir com as reais necessidades dos educandos. A resposta para que tenhamos uma efetiva democracia na educação seria justamente essa: ouvir e procurar solucionar cada uma delas. A disciplina de Filosofia recentemente inserida na matriz curricular é aquela que mais condiz com tal preceito, pois de forma autentica vem guiar os discentes a uma reflexão acerca da realidade que o circunda. Os temas abordados por ela sempre envolvem discussões filosóficas presente em toda a história, desde a antiguidade até os dias contemporâneos.
Tal estrutura não é fixa no ensino de Filosofia. O esquema pode se reduzir a conteúdos mínimos que se contrapõem ao verdadeiro “fazer filosófico”. A estratégia didática deve abrir espaço para o aluno, pois ela “dá lugar ao pensamento dos estudantes, à medida que a problematização seja uma construção coletiva”, (KOHAN. 2004, p. 38) logo é inquestionável afirmar: o ensino de Filosofia é o próprio filosofar, como denotava Kant, ou seja, o professor é quem instiga o outro a pensar, e a cada resposta dada os conhecimentos são reordenados, e assim por diante.
O ensino de filosofia – entre a questão pedagógica e a questão filosófica
O ato de filosofar para Kant só é possível pelo uso contínuo da razão, só ela permite um diálogo crítico com a filosofia, ou seja, possuímos um instrumento perspicaz de compreensão, estritamente filosófico, que nos permite analisar no presente no passado e no futuro a Filosofia. Ele não propõe um método vazio, nem tão pouco a transmissão de teorias, mas pela junção de ambos concebe que fazer filosofia é o próprio ato de filosofar. Lemos em Kant, na Crítica da Razão Pura: “Só é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitar o talento da razão, fazendo-a seguir seus princípios universais em certas tentativas filosóficas já existentes, mas sempre reservando à razão o direito de investigar aqueles princípios até mesmo em suas fontes, confirmando-os ou rejeitando-os”.
Entrelaçando-se o ato de filosofar e filosofia, concluímos que não é possível fazer o primeiro prescindindo do segundo. Ela vive e reina abrindo janelas, “(…) a própria prática da filosofia leva consigo o seu produto e não é possível fazer filoso- fia sem filosofar, nem filosofar sem fazer filosofia (…) porque a filosofia não é um sistema acabado nem o filosofar apenas a investigação dos princípios universais propostos pelos filósofos” (Gallo & Kohan, 2000, p. 184).
Filosofia e filosofar são indissociáveis, o caminho de um leva simultaneamente ao outro. Não é matéria ao esmo, mas corpo de entusiasmo, que dar-se no movimento da razão. Criamos e recriamos conceitos por meio do filosofar, desafiamos as inquietações dos jovens pela busca de compreensão, de significado e valor da realidade.
A filosofia em si mesma nasce das variadas aflições humanas, do estranhamento e do incomodo, ela busca saídas para os problemas concretos. As questões filosóficas são, portanto, universais, são humanas.
Potencialmente, a prática docente no ensino de filosofia favorece o desenvolvimento contínuo do educando; ela propicia o reconhecimento do saber do outro. Ressignificando o que não é sistematizado, o docente se dá conta do verdadeiro filosofar, sem a utilização de métodos mágicos. Por tudo isso vale ressaltar que “nunca o aluno é uma tabula rasa. Sempre há algo (certos saberes/certas práticas) que se reacomoda a partir da irrupção do novo. Essa reacomodação, ressignificando o que se possuía, é uma composição subjetiva. Quando isso se dá, podemos dizer que alguém pensou” (KOHAN. 2004, p.45.).
O professor-filósofo se confunde com o filósofo-professor; na prática ambos estão tão emaranhados que não sabemos dissociá-los. O ensino de filosofia retrata isso. Porém esta abordagem não foi das mais fáceis. Tratar de filosofia é tratar do pensamento filosófico e dos filósofos dentro da história.
A inserção da Filosofia na matriz curricular do Ensino Médio passou por obstáculos consideráveis. Quando ela entrou efetivamente nas salas de aula, a confusão foi inevitável. Professores preocupados como seria trazer para os jovens algo recheado de reflexão, e alunos que mal entendiam o que era proposto na sala de aula. “O limite que se colocava ao ensino da Filosofia não era só o compreender a filosofia e o pensar filosoficamente, mas o aprender a história, os temas, os métodos propostos pelos filósofos e, até mesmo, a linguagem utilizada pela filosofia para expressar-se”. (GELAMO, 2010, p. 22).
As perguntas essências ao quais os professores se fizeram foram: o que é e como ensinar a filosofia? A construção da prática docente depende dessas repostas bem como o êxito do ensino da disciplina em questão. As respostas começam quando o docente descobre a importância de se ensinar Filosofia, e os alunos aprendem seu teor peculiar bem como o nexo causal com os demais campos do saber. “A reposta que muitas vezes se encontra sendo repetida como um refrão é a de que a filosofia é importante para a formação crítica do sujeito etc. No entanto, apesar da generalidade a que está submetida essa afirmação, ela corrobora o vazio de sentido para os alunos que ali se encontram.”
O fazer filosófico do professor de Filosofia enuncia-se não em pedagogias e métodos corriqueiros, se assim o for, corremos o risco de fadá-lo ao fracasso. Por isso, a melhor forma de sintetizar o fazer filosófico em seu dever de ofício: é ser realmente ser um filósofo-professor.
Inquestionavelmente o ambiente escolar é o espaço onde a harmonia é elemento importante para o bom resultado da intervenção pedagógica e prática educativa. De bom grado confluem os objetivos de seus agentes, sendo este ainda um espaço de discussão e interação. Sob a égide desse pensamento, a Filosofia situa-se como uma peça articuladora interdisciplinar, pois promove junto a outras áreas do saber, o pensar autônomo.
REFERÊNCIAS
CARNEIRO, Alves Moacir. LDB fácil – leitura crítico-compreensiva artigo a artigo. 16º Ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
FREIRE, Paulo: Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (coleção Leitura).
GALLO, S.; KOHAN, W. Filosofia no ensino médio. Petrópolis: Vozes, 2000.
KANT, I. Crítica da razão pura. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Coleção “Os Pensadores”).
KUENZER, Acácio Zeneida. Ensino Médio: construindo uma proposta para os que vivem o ensino médio. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2007.
*Graduada em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cajazeiras – FAFIC
**Fonte:http://www.consciencia.org/a-filosofia-e-o-ensino-%E2%80%93-da-pratica-a-praxis
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