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quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Mojuba, meu irmão Luiz Alberto!

Foto: Rafael Martins/Uol

 *por Herberson Sonkha

 

A Bahia acorda nessa manhã de hoje (13) mais triste e menor com a perda irreparável de um dos seus militantes negros mais combativos, o ex-deputado federal Luiz Alberto do Partido dos Trabalhadores (PT).

A Bahia tem sido farol de grandes lutas no combate sistemático ao racismo desde o século XVI, quando aqui aportaram os primeiros tumbeiros com nossos ancestrais africanos sequestrados e trazidos como bichos acorrentados para serem escravos na América (Sul, Norte e Central) e nas Antilhas.

Nossos antepassados de África chegaram aqui como animais acorrentados, com focinheiras e nus nas galés das naus insalubres e fétidas. Contudo, constituíram a base de toda a economia privada pujante do Brasil Colônia, Império e continuou sendo a principal força de trabalho criadora de riquezas em todas as Repúblicas (1889-1988). Ao invés de participarem efetivamente do conjunto de direitos (econômico, social, intelectual e cultural) forma privadas de todas as garantias conquistadas pela emancipação política das republicas liberais surgidas com a revolução francesa (1789).

Por todos esses anos, fomos condenados à mais absoluta invisibilidade social pelas elites econômicas brasileiras, nos transformando em malditos sentenciados a viverem na eterna pobreza (material, intelectual e cultural) ocidental. Aliás, fomos inexoravelmente privados de resgatar, preservar e vivenciar as nossas inúmeras matrizes culturais trazidas da África e guardadas pelos nossos ancestrais em suas mentes e corações.

Seguimos resistindo, contudo, sofrendo com todas as mazelas e desigualdades, confinados nas sarjetas, vivendo na mais cruel marginalidade por séculos. Nunca curvamos as nossas cabeças ou deixamos de lutar contra o sistema escravagista e seus assassinos e torturadores sequazes com as nossas revoltas, levantes, rebeliões em senzalas e quilombos.   

Na esteira dessa história de resistência, revoltas antiescravistas e lutas antirracistas incessantes nossos homens e mulheres negras deram não apenas as suas energias criativas, mas também as suas vidas. Esse movimento negro histórico tem um legado imprescindível que constitui um notável conjunto de contribuições de natureza teórico-prática que é um indelével e indestrutível patrimônio sociocultural brasileiro do povo negro.

No Brasil sempre houve movimento de resistência com a presença de grandes mulheres negras imprescindíveis, a exemplo de Dandara dos Palmares, Tereza de Benguela, Maria Firmina dos Reis, Antonieta de Barros, Laudelina de Campos Melo, Carolina de Jesus, Ruth de Souza, Enedina Alves, Viviane dos Santos Barbosa, Maria Beatriz do Nascimento, Sonia Guimarães, Simone Maia Evaristo, Luiza Bairros, Anita Canavarro, Katemari Rosa, Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro e tantas outras.

A criação da Frente Negra Brasileira (1931), legou homens negros, a exemplo de Abdias do Nascimento, Solano Trindade, Alberto Orlando, Francisco da Costa Santos, David Soares, Horácio Arruda, Vitor de Sousa, João Francisco de Araújo, Alfredo Eugênio da Silva, Oscar de Barros Leite, Roque Antônio dos Santos, Gervásio de Morais, Cantídio Alexandre, José Benedito Ferraz, Leopoldo de Oliveira, Jorge Rafael, Constantino Nóbrega, Lindolfo Claudino, Ari Cananéa da Silva, Messias Marques do Nascimento, Raul Joviano do Amaral e Justiniano Costa.[4] Logo aderiram outros membros, entre eles Arlindo Veiga dos Santos, José Correia Leite, Salathiel Campos, Isaltino Veiga dos Santos, Jayme de Aguiar.

Mais recentemente, a criação do histórico Movimento Negro Unificado (MNU) no final da década de 70, do século XX, com expoentes intelectuais como Lélia Gonzales, Abdias do Nascimento e Milton Barbosa vão fazer incialmente o enfrentamento ao criminoso AI-5 durante a ditadura civil-militar, que impedia a mobilização pública ou privada de manifestação contra o regime, impondo obstáculos quase intransponíveis pela violenta repressão do aparato policial.

É nesse contexto de efervescia da luta política antirracista do movimento negro no ano de 1974 que surge para o movimento negro o companheiro Luiz Alberto, recém-saído da aeronáutica e ingressado na Petrobras.  Integrou debates políticos em grupos como o Núcleo de Cultura Afro-Brasileira que discuti texto teóricos como o do psicanalista Frantz Fanon (1925-1961) e do agrônomo e militante Amílcar Cabral (1924-1973) apresentando questões de racismo contra afrodescendentes e povos originários do Brasil, numa conjuntura de inserções norte-americanas liberais denominadas de “orgulho negro e sua estética”.

A Bahia entrava naquele momento nesse debate com jovens negros que se organizavam no grupo “Poder Negro”, debates realizados na parte alta de Salvador, precisamente na escadaria defronte ao Colégio Estadual Duque de Caxias, no bairro da Liberdade. É nesse contexto de disputa racial que surge o bloco afro Ilê Aiyê desempenhando relevante papel político no resgate cultural da ancestralidade roubada.

Em 1997 Luiz Alberto é eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT) a deputado federal, construindo seu mandato majoritariamente com pessoas negras (militantes, intelectuais e artistas). A sua pauta antirracista tinha representatividade de sua base eleitoral e a relevância política de seu mandato incomodaram profundamente à ala parlamentar tradicionalmente branca. Até mesmo àqueles parlamentares dentro do espectro de esquerda saíram no ataque, passaram a questionar a sua “atitude” antirracista.

Atuou em seus quatro mandatos (1995-2015), afirmava que "Mesmo com tantos mandatos, minha intenção sempre foi levar para o Congresso as demandas que ouvi nas ruas desde a década de 1970". Participou com protagonismo da elaboração e aprovação da lei que transformaria o dia 20 de novembro no Dia da Consciência Negra, um feriado nacional.  Embora o projeto tenha sido arquivado, foi aprovado apenas em 2009 o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra no calendário nacional, sendo vetado como feriado nacional.

Que Obatalá o receba no Olódùmarè com festa. EXÚ MOJUBA dê os caminhos ao nosso grande irmão pela sua estada aqui em nosso ayê.

 

Axé!!!

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