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Discurso de Lula no Parlamento Europeu
*por Luiz
Inácio Lula da Silva
Vamos começar quebrando o protocolo e falando o nome de um companheiro que me dá muita alegria de ver sua presença aqui, o nosso querido companheiro Rafael Correa, ex-presidente do Equador. Quero cumprimentar a companheira Iratxe García, presidente do Grupo Social Democrata (Grupo S&D) do Parlamento Europeu; cumprimentar o querido companheiro José Luis Zapatero, ex-primeiro ministro da Espanha; cumprimentar a companheira Claudia Pardo, prefeita da Cidade do México que me parece que vai falar aqui em uma gravação; companheiro Pedro Marques, vice-presidente do Grupo S&D; companheira Maria Manuel Leitão Marques, coordenadora da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana; companheiro Javi López, co-presidente da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana; companheiro Pedro Silva Pereira, vice-presidente do Parlamento Europeu; e Andreia Schneider co-presidente do Fórum Progressista Mundial.
Quero
cumprimentar alguns companheiros brasileiros que vieram na minha delegação: o
companheiro Aloizio Mercadante, ex-senador, ex-ministro da Ciência e
Tecnologia, ex-ministro da Educação, ex-ministro Chefe da Casa Civil, ex-líder
do governo, ex-deputado federal, economista da Unicamp, ex-assessor do Governo
Sindical, um grande companheiro, hoje presidente da Fundação Perseu Abramo.
Quero cumprimentar o companheiro Celso Amorim, embaixador que foi ministro do
tempo em que o Itamar Franco era presidente da República, foi oito anos meu
chanceler, depois foi Ministro da Defesa da Dilma. Quero cumprimentar o querido
senador Humberto Costa, companheiro do meu partido, senador da república pelo
estado de Pernambuco. Cumprimentar o companheiro Arlindo Chinaglia, Deputado
Federal e médico pelo Partido dos Trabalhadores.
Meus
queridos companheiros e queridas companheiras, as minhas primeiras palavras são
de agradecimento e reconhecimento da solidariedade extraordinária que vocês
tiveram enquanto campo progressista aqui, nesse Parlamento, na luta contra o
golpe que foi dado na presidenta Dilma Rousseff, com um impeachment que não
tinha nenhuma motivação, e, depois, com a minha prisão, os processos contra o
PT, os processos contra mim e outros companheiros e, ao final, a minha
proibição de sair como candidato à Presidência da República em 2018, e
possivelmente o impedimento do nosso partido de voltar a governar o Brasil.
É
importante apenas um reconhecimento: há uma razão pela qual uma parte da elite
brasileira, sobretudo a elite política e econômica, tem um problema sério em
relação ao PT. É porque o PT, com apenas 9 anos de existência, na sua primeira
disputa à Presidência da República foi o segundo colocado, em 1989. Em 1994, o
PT outra vez foi o segundo colocado; em 1998, outra vez foi o segundo e, em
2002, o PT foi o primeiro colocado, em 2006, primeiro colocado, em 2010, outra
vez o primeiro colocado, em 2014, primeiro colocado, e em 2018, o PT seria
outra vez o primeiro colocado. Lamentavelmente eu fui proibido de concorrer, o
companheiro Fernando Haddad foi o segundo colocado e nós estamos trabalhando
fortemente para que em 2022 sejamos outra vez o primeiro colocado e possamos
recuperar a democracia do nosso país.
Não
tem como eu agradecer o que vocês fizeram por nós, pela democracia, pela luta
do PT e das forças progressistas no Brasil. Meus parabéns a vocês. Espero que
nunca seja necessário retribuir essa solidariedade, porque eu espero que vocês
nunca sejam vítimas das atrocidades que eu vivi no Brasil, que Rafael viveu no
Equador, que Lugo viveu no Paraguai, que Evo viveu na Bolívia e de outros
companheiros que são perseguidos no nosso continente.
Quero
dizer para vocês que tenho a honra de ter feito política no meu país no mais
importante momento da esquerda e dos setores progressistas em toda a história
da América Latina. No nosso tempo de governo eu tive o privilégio de ser
presidente do Brasil com Lagos e depois Michelle Bachelet na presidência do
Chile. Com Kirchner e depois Cristina na presidência da Argentina. Com Tabaré e
depois com Pepe Mujica na presidência do Uruguai. Com o companheiro Lugo na
Presidência do Paraguai, com Rafael na Presidência do Equador, até mesmo com os
companheiros de direita e alguns países, como a Colômbia, que participavam ativamente
das políticas da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL). Tive o prazer de,
junto com os companheiros de criar a UNASUL, criar a Comunidade de Estados
Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), expulsar a Área de livre Comércio das
Américas (ALCA) da América do Sul e fortalecer o Mercado Comum do Sul
(MERCOSUL). E tive o prazer de viver possivelmente o mais importante momento de
ascensão social do povo pobre da América do Sul e da América Latina. Pensa em
uma conquista que nós deveríamos agradecer a todos os presidentes que
governaram junto conosco.
O
Rafael sabe porque ele era perseguido. Porque no mundo Latino-americano, em
toda a história da América Latina, todos os presidentes ou governantes que
resolveram ousar e dar ao pobre o direito de trabalhar, comer, estudar e serem
respeitados, ou foram assassinados, ou foram perseguidos politicamente. Qual é
a razão para a perseguição ao companheiro Evo Morales? O Evo não poderia
concorrer ao quarto mandato? É muito engraçado que em um regime presidencialista
só o Roosevelt concorreu a quatro mandatos, mas no restante do mundo todo,
pensar em um terceiro mandato já é ser considerado como um ditador. E no
parlamentarismo que as pessoas governam 16 anos? A Angela Merkel acaba de
completar 16 anos no governo, Margaret Thatcher reivindicou e tudo. Todos eles
ficam dezenas de anos e não é ditadura, não é autoritarismo, somente quando um
de nós tenta concorrer a um terceiro mandato.
Eu
estou muito à vontade pra falar, porque na época eu tinha 87% de bom e ótimo
nas pesquisas, e queriam me aprovar um terceiro mandato. Eu não aceitei, eu
disse em alto e bom som que o Brasil tinha que ter alternância de poder e tinha
que eleger outros companheiros. Logicamente que eu nunca imaginei que o Brasil
fosse eleger uma pessoa como Bolsonaro para presidir nosso país, nunca me
passou pela cabeça. De qualquer forma, se nós temos alguma responsabilidade
enquanto esquerda, enquanto progressistas, de alguns setores da direita
governar nosso país, nós temos agora o compromisso de tirá-los, devolver a
democracia e o bem-estar social para o nosso povo.
Queria
agradecer o convite do Parlamento Europeu, sinceramente eu não sei se estou
habituado porque faz muito tempo que eu não participo de atividades como essa,
e eu estou aqui fazendo um aprendizado já que durante 580 dias na cadeia eu não
pude nem dar entrevista e depois que eu sai da cadeia que fui visitar o papa,
fui a Berlim, a França, e depois entrei em lockdown, fiquei em casa durante
quase dois anos por conta da pandemia. Só agora que eu estou conseguindo fazer
meu primeiro pronunciamento sem máscara, e isso é muito importante. Estou muito
à vontade e com muita vontade de viajar no Brasil falando outra vez com o povo
brasileiro sobre a importância do nosso país para o mundo e para a democracia.
Eu
quero começar falando não da América Latina, nem da União Europeia, nem de
algum país, continente ou bloco econômico em particular, e sim do vasto mundo
em que vivemos todos nós – latino-americanos, europeus, africanos, asiáticos,
seres humanos das mais diferentes origens.
Vivemos
em um planeta que tenta a todo momento nos alertar de que precisamos de novas
atitudes e de uns dos outros para sobreviver. Que sozinhos estamos vulneráveis
às tragédias ambientais, sanitárias e econômicas. Mas que juntos somos capazes
de construir um mundo melhor para todos nós.
No
entanto, ignoramos esses alertas. Insistimos em não aprender com os erros do
passado.
O
resultado da nossa falta de compreensão está à vista de todos: pandemia,
desigualdade, fome, emergências climáticas que no futuro próximo poderão
comprometer a sobrevivência da espécie humana na Terra.
Apesar
de tudo isso, quero reiterar aqui minha crença inabalável na humanidade.
Não
nasci otimista – aprendi a ser. Porque vi em vários momentos da minha vida o
quanto um ser humano é capaz de realizar, e o quanto um povo é capaz de
construir, quando existe força de vontade e geração de oportunidades.
Quem
vive hoje no Brasil, ou acompanha o noticiário sobre o país, tem todos os
motivos para estar pessimista. Mas aonde quer que eu vá, faço questão de dizer:
o Brasil tem jeito – apesar do projeto de destruição colocado em prática por um
bando de extremistas de direita sem a menor noção do que seja cuidar de um país
e de seu povo.
O
Brasil tem jeito, apesar dos 19 milhões de brasileiros que passam fome. Apesar
dos 19 milhões de desempregados e desalentados, que já desistiram de procurar
um novo emprego. Apesar dos ataques constantes contra a população negra e
indígena. Apesar do avanço da destruição do meio ambiente, inclusive na
Amazônia.
E
apesar, sobretudo, das mortes de mais de 610 mil brasileiros, muitas delas
evitáveis – caso houvesse por parte do atual governo o interesse em combater
com seriedade o coronavírus.
Apesar
de tudo, digo com total convicção: o Brasil tem jeito. Sei disso porque num
passado muito recente nós fomos capazes de reconstruir e transformar o país, e
temos plena capacidade de reconstrui-lo outra vez.
Da
mesma forma que acredito que o Brasil tem jeito, acredito também que o mundo
tem jeito. Apesar dos 750 milhões de pessoas que passam fome, apesar dos 5
milhões de mortos pela Covid-19, apesar da desigualdade que não para de crescer,
apesar dos conflitos étnicos, religiosos e geopolíticos que não raro alimentam
as guerras.
Como
disse no início desta fala, meu otimismo não nasce do acaso, mas da
experiência. Acredito que a humanidade tem jeito porque estou aqui hoje, neste
Parlamento Europeu, reunido com representantes de países que em meados do
século 20 eram inimigos ferozes no campo de batalha, numa das maiores
carnificinas da história.
60
milhões de pessoas morreram na Segunda Guerra Mundial. É bem provável que os
antepassados de vocês tenham lutado em lados opostos. Que tenham matado,
morrido e sofrido na pele as atrocidades da guerra.
Vocês
e seus países teriam, portanto, razões para se odiarem uns aos outros. No
entanto, são protagonistas de uma das mais extraordinárias experiências da
história moderna, que foi a construção da União Europeia.
Vocês
estão hoje aqui, neste Parlamento Europeu, em clima de paz, buscando juntos
soluções para a construção de uma Europa melhor.
Conhecemos
o imenso poder de destruir que o ser humano tem em suas mãos, e que ele tantas
vezes não hesitou em usar. Mas não podemos jamais esquecer que a humanidade tem
também uma extraordinária capacidade de construir e reconstruir.
A
União Europeia, o Parlamento Europeu e vocês, senhoras e senhores eurodeputados,
são, portanto, exemplos dessa virtude humana. A União Europeia não é perfeita,
como nada é, mas é um patrimônio da humanidade, como exemplo de cooperação e
construção da paz entre os povos.
Senhores
deputados e senhoras deputadas
Somos
7 bilhões e seiscentos milhões de seres humanos habitando este planeta. Homens,
mulheres, crianças e velhos, ricos e pobres, pretos, brancos, gente de todas as
cores.
Cada
um de nós carrega dentro de si o seu universo particular. Somos diferentes uns
dos outros, cada qual com sua individualidade, mas unidos todos por uma certeza
ancestral: o ser humano não nasceu para ser sozinho.
O que
me faz lembrar do pequeno trecho de uma das grandes obras primas da Bossa Nova,
esse gênero musical brasileiro que conquistou o mundo. Um verso que diz o
seguinte: “É impossível ser feliz sozinho.”
A
verdade é que não é possível sermos felizes enquanto milhões de crianças ao
redor do mundo vão dormir esta noite com fome, e acordarão amanhã sem saber se
terão o que comer.
Não é
possível sermos felizes em meio a tamanha desigualdade, que cresceu de forma
inaceitável em plena pandemia. Os ricos ficaram muito mais ricos e os pobres,
ainda mais pobres.
A
desigualdade entre ricos e pobres manifesta-se até mesmo nos esforços para a
redução das mudanças climáticas. O 1 por
cento mais rico da população do planeta vai ultrapassar em 30 vezes o limite
necessário para evitar que um aumento da temperatura global ultrapasse a meta
de 1,5 grau centígrado até 2030.
O 1
por cento mais rico, que corresponde a uma população menor que a da Alemanha,
está a caminho de emitir 70 toneladas de gás carbônico per capita por ano.
Enquanto
isso, os 50 por cento mais pobres do mundo emitirão, em média, apenas uma
tonelada per capta por ano, segundo estudo produzido pela ONG Oxfam e
apresentado recentemente na COP 26.
A luta
pela preservação do meio ambiente para mim é indissociável da luta contra a
pobreza e por um mundo menos desigual e mais justo.
É
preciso deixar bem claro que o otimismo, a esperança e a fé não podem ser
jamais sinônimas de resignação. Por conta disso, eu me considero um otimista
indignado.
Em
2009, os países ricos se comprometeram em aumentar para 100 bilhões de dólares
ao ano, a partir de 2020, a contrapartida para os países em desenvolvimento
preservarem a natureza e enfrentarem as mudanças climáticas. Esse compromisso
não foi cumprido, e agora está sendo postergado para mais dois anos, ou seja, a
partir de 2023, a transferência de 100 bilhões ao ano para enfrentar a
emergência climática.
Iniciativa
louvável, que merece ser celebrada. Mas não podemos esquecer que na crise de
2008, os Estados Unidos destinaram 700 bilhões de dólares para salvar da
falência bancos que de forma irresponsável investiram em títulos imobiliários
podres.
Na
mesma época, o G-20 destinou mais 1,1 trilhão de dólares aos países emergentes
e ao comércio mundial, para combater os efeitos da crise.
É
preciso lembrar também que os Estados Unidosgastaram8 trilhões de dólares nas
guerras pós-11 de setembro. Quantia suficiente para eliminar a fome no mundo e
preparar o planeta para lidar melhor com as mudanças climáticas. E que, no
entanto, foi usada para causar a morte direta de mais de 900 mil pessoas em
países como Iraque, Afeganistão, Síria, Iêmen e Paquistão. Sem contar as mortes
provocadas pela perda de água, esgoto e infraestrutura relacionadas com a
guerra.
Ou
seja, não faltam recursos para salvar bancos e para causar a morte ou o
deslocamento forçado de milhões de seres humanos. Mas na hora de salvar vidas
humanas ou o próprio planeta em que vivemos, a solidariedade dos países ricos é
dezenas de vezes menor.
Uma
das maiores alegrias que tive quando presidente do Brasil, e mesmo depois de
deixar a Presidência, foi percorrer o mundo, a convite dos mais diferentes
países, para falar dos nossos extraordinários avanços econômicos e sociais.
Tive a
honra de conduzir o Brasil ao posto de 6ª maior economia mundial. E de fazer do
país um exemplo para o mundo de como é possível superar a extrema pobreza e a
fome, com total respeito à democracia, em um curto espaço de tempo.
Vocês
podem, portanto, imaginar o quanto dói participar de grandes eventos
internacionais como este e ter que declarar o quanto o Brasil andou para trás
desde o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff e a chegada da extrema
direita ao poder.
O Brasil
vive hoje uma tragédia social, econômica, ambiental e sanitária sem
precedentes. Temos 2,7 por cento da população mundial. No entanto respondemos
por 12 por cento das mortes por Covid registradas no mundo.
Choramos
a morte de mais de 610 mil brasileiros. Não chegamos a essa trágica estatística
por alguma fatalidade, e sim pela atitude criminosa do atual governo.
O
atual presidente ironizou a gravidade da doença. Zombou dos mortos. Atrasou o
quanto pôde a compra das vacinas. Fez propaganda enganosa e distribuiu
medicamentos comprovadamente ineficazes contra o vírus.
Deixou
faltar oxigênio em hospitais. Incentivou e promoveu aglomerações. Induziu a
população à desconfiança quanto à eficácia das máscaras. Ajudou a espalhar fake
news contra as vacinas, chegando a dizer que elas podem levar as pessoas
com HIV a desenvolverem AIDS.
Experiências
com medicamentos ineficazes, usando seres humanos como cobaias involuntárias,
chegaram a ser realizados no Brasil, reeditando os horrores do nazismo.
Além
disso, cerca de 116 milhões de brasileiros, metade da nossa população, vive
hoje em situação de insegurança alimentar, de moderada a muito grave. Desses,
cerca de 19 milhões, quase duas vezes a população da Bélgica, chegam a passar
um dia inteiro sem ter o que comer.
Isso
está acontecendo no Brasil, que é o terceiro maior produtor mundial de
alimentos.
E está
acontecendo porque o Brasil, que em 2014 saiu do Mapa da Fome da ONU pela
primeira vez na história, hoje copia o que o neoliberalismo trouxe de pior ao
mundo: alta concentração de renda, baixa geração de empregos, destruição de
direitos trabalhistas, desmonte das políticas sociais, ausência do Estado,
abandono dos mais pobres à própria sorte.
O
resultado dessa trágica equação não poderia ser outro: miséria, fome,
desesperança.
Mas eu
estou aqui para dizer outra vez a vocês e ao mundo: o Brasil tem jeito. Porque
ele é muito maior do que qualquer um que tente destruí-lo.
O
Brasil é o país que num passado muito recente encantou o mundo com as suas
políticas inovadoras, que retiraram da extrema pobreza 36 milhões de pessoas –
o equivalente à soma das populações inteiras de Portugal, Suécia, Dinamarca e
Irlanda.
O
Brasil é o país que assumiu voluntariamente diante do mundo o compromisso de
reduzir em 75 por cento o desmatamento na Amazônia, como forma de conter a
emissão de gases poluentes.
E
cumprimos antecipadamente nossa promessa – entre 2004 e 2012, nós, de fato,
reduzimos em 80 por cento o desmatamento da Amazônia, contribuindo para
minimizar o avanço das mudanças climáticas.
Infelizmente,
os países ricos, justamente os principais responsáveis pela emissão de gases de
efeito estufa, não cumpriram a sua parte. Talvez porque os ricos acreditem que
tenham como se proteger, e as mudanças climáticas afetarão com maior
intensidade os mais pobres, o que é a triste realidade.
Mas o
que eles esqueceram é que todos nós – ricos e pobres – precisamos do mesmo
oxigênio para respirar, precisamos de água limpa para sobreviver, precisamos de
um planeta saudável, onde nossos filhos possam viver com saúde e paz.
Felizmente,
essa era de trevas que se abateu sobre o planeta, por conta da ascensão de
governos de extrema direita pelo mundo afora, emite claros sinais de que está
chegando ao fim.
Partidos
e candidatos progressistas vêm conquistando importantes vitórias. Isso está
acontecendo em vários países, e estou certo de que vai acontecer também no
Brasil, a partir da eleição presidencial do ano que vem.
O
Brasil voltará a ser uma força positiva no mundo. Voltaremos a ser criadores de
políticas públicas capazes de mudar para melhor o nosso planeta.
Acreditamos
num mundo multipolar. Voltaremos a ter uma política externa altiva e ativa.
Vamos fortalecer o Mercosul, reconstruir a União de Nações Sul-Americanas, a
Unasul, e ampliar nossas parcerias com a União Europeia.
Vamos
aperfeiçoar os termos do acordo Mercosul-União Europeia. Não queremos uma
América Latina voltada exclusivamente para o agronegócio e a mineração. Temos
total capacidade de sermos também países industrializados, tecnologicamente
avançados.
O
acordo hoje se encontra paralisado, por conta da desconfiança de países
europeus quanto ao cumprimento dos compromissos ambientais assumidos pelo
governo brasileiro.
Temos
imensas extensões de terras agricultáveis, temos tecnologia, pesquisas
agropecuárias avançadas. Nossa produção de alimentos não precisa desmatar a
Amazônia para exportar soja ou criar gado. As atividades criminosas dos que
destroem o meio ambiente devem ser punidas, e não podem prejudicar toda a
economia brasileira.
Temos
uma biodiversidade extraordinária, e os nossos biomas haverão de se regenerar
após a extinção do atual governo, que estimula o desmatamento e as queimadas, o
avanço do garimpo em áreas de proteção ambiental, os ataques aos povos
indígenas.
O povo
brasileiro não quer que essa destruição continue. Os brasileiros querem a
Amazônia viva e de pé. E para isso, é necessário construir alternativas sociais
e de desenvolvimento, com ciência, tecnologia e o protagonismo e respeito aos
povos que vivem na floresta, seus saberes e sua cultura.
Meus
amigos e minhas amigas,
Acreditamos
num mundo cada vez mais plural, unido em torno de valores como solidariedade,
cooperação, humanismo e justiça social. Acreditamos numa nova governança
mundial, começando pela ampliação do Conselho de Segurança da ONU, e vamos continuar
lutando por ela.
Acreditamos
que somos capazes de construir no mundo uma economia justa, movida a energia
limpa, sem a destruição do meio ambiente e livre da exploração desumana da
força de trabalho.
Acreditamos
que outro Brasil é possível, outra Europa é possível e outro mundo é possível –
porque, num passado muito recente, fomos capazes de construí-lo.
Podemos
ser felizes juntos. E seremos.
Muito
obrigado a todos.
Bruxelas,
15/11/21.
*fonte: https://lula.com.br/leia-o-discurso-de-lula-no-parlamento-europeu/
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