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quarta-feira, 15 de abril de 2020

A guerra política 'napoleônica' perdida nas áridas terras do sertão baiano de Anagé



"[..] os falconídeos devem ganhar a próxima batalha em Anagé porque é necessário libertar a população do fardo pesado da atual administração municipal que instalou o medo generalizado por meio do chicote e do comprometimento de políticas públicas [...]"

*por Herberson Sonkha

Na França, Napoleão foi um dos líderes da revolução burguesa que deram um golpe na classe trabalhadora para restaurar a nobreza absolutista que entrou para a história como traidor que construiu o império bonapartista com sangue, suor e lágrimas da classe operária francesa. Em Anagé, uma minúscula parte sucumbiu à condição indigente de um pequeno e mísero prato insignificante sobre o qual se assenta as xícaras caríssimas das oligarquias ricas da cidade.


Mas, isso não define o traço heráldico da ilustre genealogia da família Pires [1] desde a era Colonial do Brasil. Os Pires brasileiros, especialmente os da Bahia vem de longa tradição camponesa que ascendeu profissional e politicamente na vida urbana com ativa participação no campo de esquerda, ou democrático progressista, exceto o Napoleão do semiárido baiano.

Esse comportamento obsequioso de natureza servil para com os ricos da cidade, possivelmente pode ter sido por consequência da intensa domesticação de dependes agregados através de um tipo de educação liberal utilitarista [2], ensinada desde os tempos da Casa Grande para dominar a mente da população escravizada. Tais ensinamento se mantem direcionado aos oprimidos pela burguesia para instrumentalizá-los no trabalho escravo e a partir da década de 40, do século XX, para arregimentá-los eleitoralmente.

Este cenário socioeconômico desastroso para as populações empobrecidas que se repete diariamente em Anagé, geralmente na maioria dos munícipios brasileiros, nos fazendo lembrar-se da disputa triunfal de Waterloo ocorrida na província situada no planalto densamente florestado, território mais acidentado, muito rochoso e não é adequado para agribusiness.

Nessas condições socioeconômicas e políticas, impõe-se a presença de um personagem fantasmagórico controverso em particular, Napoleão. Alguns são bonapartes, outros preferem serem inocentes úteis às oligarquias, se tornando um pequeno prato sobre o qual se assenta a xícara de porcelana grã-fina das famílias ricas.

Se, até o mais indefectível estrategista de batalhas de todos os tempos, que conhecia profundamente as regras do xadrez, perdeu a principal guerra de sua vida de beligerante, a famosa batalha de Waterloo (um município a Bélgica, no distrito de Nivelles, na província de Brabante Valão, região da Valônia), não será diferente para o insólito servil das oligarquias anageenses. Uma escolha errada, mas enfim...

Embora a cidade belga não seja exatamente parecida com a maioria das cidades no entorno do Platô do altiplano do Sertão da Ressaca, Waterloo possui especificidades que a fazer lembrar aspectos geomorfológicos que são incomuns com o município de Anagé, donde desenrolará nos próximos meses a mais importante batalha político-eleitoral que poderá levar a cidade ao aprofundamento do caos, originado pelo fracasso administrativo da atual gestão surgida no bojo do movimento de extrema-direita de viés fascista no Brasil (2014) ou ao soerguimento socioeconômico de político nos próximos anos.

Essas possibilidades (ascensão e queda) vão depender de qual escolha será feita no tabuleiro de xadrez da política pelos munícipes anageenses que se dará na batalha eleitoral entre falconídeos e serpentes na pequena cidade cravada no pé do platô do Planalto da Conquista, no portal do semiárido baiano, aquela que tem nome de ave como significado figurado de ‘lugar de gente perspicaz’, da família dos acipitrídeos falconídeos cosmopolitas: Anagé que significa gavião. 

O mais notável filósofo alemão do Sacro Império Romano-Germânico do século XVIII, Johann Wolfgang von Goethe, já advertia lá no século XVIII que “o xadrez é a ginástica da inteligência”, sem a qual não se vence dignamente o adversário. Subestimar essa premissa é admitir no curto prazo uma derrota infame, sem nenhuma chance de ser absolvido pela história ou preservado a própria dignidade humana, pelo menos para quem não é descendente direito ou indireto das oligarquias conservadoras anageense.

Se na batalha de Waterloo, a Inglaterra e a Prússia juntas venceu o pequeno Napoleão, isso poderá ocorrer também em Anagé em razão de uma frente de esquerda e centro-esquerda progressista articulada por intelectuais, religiosos progressistas, militantes e entidades sindicais e sociais. Neste sentido, a cidade poderá escolher entre voar (falconídeos) ou rastejar (Serpens).

Na França napoleônica, seus adversários exercitaram melhor a inteligência e definiram uma exitosa estratégia, posicionando seus soldados e usando seu arsenal da melhor forma possível contra uma imagem criada pelo medo de que o invencível Napoleão era uma máquina beligerante imbatível. Seus adversários usaram o campo de batalha como se fosse um imenso tabuleiro do xadrez. Igualmente ocorrerá em Anagé, imagina-se que essas políticas forças de esquerda e de centro vão posicionar seus atores sociais na cena política orientando-os a agiram de forma perspicaz. 

De fato foi, pois o uso racional de força intelectual militante, desconstruindo na mente de seus soldados (militantes) o medo de um espectro (esse sujeito parecia maior que a história, aliás, Napoleão era literalmente um pigmeu, mas sua inteligente, dono de uma mente prodigiosa, o fazia grande), isso fez com que sua estratégia subjugasse a genialidade do pequeno Napoleão Bonaparte, fazendo triunfar sobre o erro tático do imperador mais temido do século XIX.

Os falconídeos devem ganhar a próxima batalha em Anagé porque é necessário libertar a população do fardo pesado da atual administração municipal que instalou o medo generalizado por meio do chicote e do comprometimento de políticas públicas em função das inúmeras possibilidades de vilipêndios do erário público. E isso sim é significativo para a população. Por analogia, esse momento vivenciado em Anagé tem a mesma importância da batalha vencida em Waterloo, pois essa batalha foi a que pôs fim ao império napoleônico. Em Anagé o império napoleônico são as oligarquias (oliveiras e Soares) tradicionais que comandaram a municipalidade marcada pelo mandonismo, patrimonialismo, assistencialismo eleitoreiro e corrupções.

Estudamos na escola sobre imperialismo na modernidade, com a obra do historiador e escritor Eric Hobsbawm, sobre o período de vigência de impérios (A Era dos Impérios 1875-1914), devemos aprender a lição que a história moderna nos ensina sobre a década de domínio bélico do império francês.

Compreender o desenvolvimento de uma política expansionista, baseada em conquistas territoriais por meio do uso da força bélica para destruir aqueles que o império napoleônico declarava serem seus inimigos, subjugando os vencidos. Uso excessivo da centralização da política nas mãos de Napoleão com apoio político da burguesia francesa ao regime absolutista instaurado pelo império napoleônico. Adoção de princípios liberais franceses aos países vencidos, combatendo as estruturas políticas aristocráticas feudais.

Isso não diferente do acontece atualmente, podemos observar que o capitalismo continua expansionista, atualizando seus métodos de colonização para “conquistar” territórios da América Latina, Ásia e a África. Esse processo ocorre com forças bélicas superpoderosas lideradas pelos EUA, sob a égide de defender princípios de liberdade de mercado, contra aristocracias corruptas, ditatoriais e de esquerda.

Trazendo esses acontecimentos do capitalismo mundial para a nossa realidade local, podemos compreender que essas forças globalizadas do imperialismo têm seus representantes políticos no município de Anagé. Observem que o desenvolvimento e expansão de empresas privadas na cidade são de propriedade de quais famílias senão direta ou indiretamente ligadas às oligarquias. As principais e extensas faixas terras localizadas estrategicamente no entorno da beira da barragem servem apenas para agribusiness (apensa pequenas porções de terra servem ao lazer), pertencem a quem senão aos grandes latifundiários e grileiros (forçaram famílias da pequena agricultura família de subsistência a deixaram a suas terras e forma vítimas de pilhagem) para formação de Plantation.

Quem são essas pessoas senão membros diretos ou descendentes dessas famílias oligárquicas da Anagé que formaram seus filhos na capital e hoje viraram profissionais liberais (advogados, médicos, engenheiro e etc.) bem posicionados socioeconômica e politicamente na cidade e investem seus supersalários construindo plantations ou paraísos de férias para veraneio. Isso não é política expansionista napoleônica exercida por uma minúscula parcela de anageenses bem sucedidos que ficaram ricos à custa do erário público, sem explicar a origens de suas fortunas?

Outra característica dessa política napoleônica no modus vivendi de Anagé é centralização do poder econômico e políticos nas mãos dessas famílias oligárquicas que tem os mesmos sonhos que move o desejo da burguesia mundial que é controlar o poder econômico, social e política de Anagé.

Essa centralização no município de Anagé de poderes nãos mãos das oligarquias se configura como regime absolutista que controle com mãos de ferro o acesso à prefeitura, restringindo essas poucas famílias ou a quem se submete como serviçal a esses interesses mesquinhos é indicado como fantoche para perpetuar essas oligarquias no controle da cidade.

Para essas oligarquias anageenses o lugar e a importância dos pobres se limitam apenas a ser massa de manobra a cada período eleitoral (lembra-se do tapinha nas costas, cafezinho tomado na cozinha de cada família?), sendo valorizados apenas em períodos eleitorais, até confirmar o voto na urna, daí em diante volta a ser exatamente como sempre foi: pobreza, desemprego, fome, miséria que força as famílias empobrecidas a procurar os “lideres” dessas famílias abastadas (nas costas do povo) para pedir uma oportunidade de emprego ou algum tipo de serviço público, sendo forçado a trocar seu voto.

Por fim, compreender que a história continua sendo o melhor caminho para explicar que essas famílias oligárquicas precisam manter as mazelas na sociedade (fome, desemprego, falta de moradia, saúde e educação decadente, transporte precário ou inexistente, salário de vergonha, perseguição política) para justificar seus discursos eleitorais para enganar incautos e as pessoas mais pobres. A cada período eleitoral eles apresentam dois tipos de pessoas: um rico empresário ou um profissional liberal (advogado, medico, engenheiro) pertencente a essas famílias como se fosse o mais inteligente, erudito, capaz, hábil e a pessoa mais honesta.

Essas pessoas defendem liberdade de expressão, direito de votar, eficiência técnica na gestão, moralidade e direito a emprego, moradia, transporte e o fim da perseguição e opressão ao povo, fazem até discurso de combate as estruturas políticas aristocráticas dizendo que são atrasadas. Mas, não se esqueçam de que as duas últimas prefeitas são exatamente assim. Essas são as mesmas pautas baseada em princípios liberais da França de Napoleão (lembra-se?). A cidade precisa respirar outros ares mais limpos, com cheiro do orvalho do camponês, de projeto de povo, baseado em projetos populares que efetivamente representa a classe trabalhadora do campo e da cidade.

Não podemos mais cair nessas armadilhas históricas criadas por discursos pomposos, mas esvaziados de prática que condiz com o que foi dito. A cidade precisa ter a cara de gente que passou a vida toda dando duro para fazer a riqueza alheia do seu patrão rico e no final do dia volta para sua triste realidade de pobreza e amargura por não conseguir formar seus filhos, pois essa gente rica não aceita que qualquer trabalhador, não importa se a profissão é de pedreiro, doméstica, manicure, lavadeira, diarista, gari, pintor, magarefe, lavrador possa virar médico, engenheiro ou advogado.

Até poder chegar a essa condição, isso é raro, mas para isso deve abrir mão de sua condição de classe trabalhadora e seus valores (história de vida de sua família, honestidade, respeito ao trabalho, a honra, ética e respeito ao próximo). Para chegar ao poder eles obrigar a defender os ideais do patrão burguês e esquecer tudo que aprender com seus pais. Quando chegam ao poder segue a cartilha das oligarquias e faz exatamente o contrário do que disse no palanque, favorecendo as famílias ricas.

Não somos napoleônicos, somos seres humanos simples, sertanejo que quer vencer a vida sem explorar, sem perseguir, sem trapacear, sem enganar e sim com o suro do seu rosto. Acordar todos os dias sem nenhum receio de ninguém, pois a política não é o que essa gente rica vem ensinando há séculos com corrupções, roubos, enganações, explorações e mentiras, a política não é a arte de enganar alguém e sim a virtude de garantir o seu sustento dignamente sem negar as mesmas condições sociais, econômicas e políticas a qualquer ser humano, especialmente a quem mais precisa.



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[1] Segundo estudos realizados pelo Heraldrys Institute of Rome, muitos dos ‘Pires’ ou ‘Peres’ se distinguiram em vários campos, merecendo dos nossos Reis várias Mercês, como cartas de Brasão de Armas, como sucedeu com João Manuel de Carvalho Pires em 22.4.1781, as quais ainda hoje se vêm no seu Solar da Igreja, em Mondim de Basto. Outros procedem da Vila de Almendro, província de Huelva, em Espanha, descendente de Don Manuel Domínguez Llanes e de sua mulher, com quem c. a 21.2.1773, Doña María Pérez Barba (filha de Don Alonso Pérez Barba e de Doña María Gómez Corrêa), cujo filho Don Ildefonso Domínguez Pérez (n. a 21.9.1782) passou a Portugal, em princípios do séc. XIX, devido aos motins que agitaram a Andaluzia durante o reinado de José Bonaparte, de 1808 a 1813 (a chamada "guerra dos franceses"), e foi vice-cônsul de Espanha em Albufeira. Do seu casamento com Doña Maria-del-Carmen Barba Ponce (n. a 31.1.1782) (filha de Don Lorenzo Barba Ponce e de Doña Catalina González Romero), nasceu, único varão, Ildefonso Domingues P. (f. a 24.8.1881), sr. da quinta da Cova dos Gatos, proprietário em Alcantarilha, o qual c. a 28.9.1840, nesta vila, com D. Maria-da-Conceição Gomes (7.9.1821-9.3.1891), filha de Don Juan Gómez Pablo, proprietário, e de Doña Lucia Rodríguez Thenório. Acesso pelo site https://www.heraldrysinstitute.com/lang/pt/cognomi/Pires/Portugal/idc/602326/

[2] Teoria desenvolvida na filosofia liberal inglesa, pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham (1748-1832) e pelo filósofo e economista britânico John Stuart Mill foi (1806-1873), que considera a boa ação ou a boa regra de conduta caracterizáveis pela utilidade e pelo prazer que podem proporcionar a um indivíduo e, em extensão, à coletividade.

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