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sábado, 11 de maio de 2019

Para que serve o conselho de mamãe?

Mamãe Jacy, Herberg e Herberson

"Apaixonou-se pela profissão e, a partir de 1969, passou a atuar profissionalmente como Atendente e depois como Auxiliar de Enfermagem no Crescêncio Silveira e Hospital São Vicente de Paula até 1990.  De volta a sua cidade de infância, no início dos anos 90, atuou no Posto de Saúde da rede municipal de Saúde de Manoel Vitorino. Nesse mesmo período, realizou seu antigo sonho de adolescente que era estudar o curso de Técnica de Enfermagem, que o fez com êxito depois de 60 anos de idade."


*por Herberson Sonkha



A palavra conselho quer dizer muita coisa, principalmente ser for de mãe. Em tese, um conselho de mãe deve primar a todo o momento por ensinar algo proveitoso aos filhos. Deve sim avisá-los quanto ao que cabe (ou não) fazer moralmente em função de uma determinada situação controversa ou incerta que o prejudicará. Mas, infelizmente não tem sido isso que vem acontecendo hoje em dia. Os filhos, em sua maioria têm-se verdadeira ojeriza a essa palavra: conselho.


Nosso respeito e carinho como filhos (Herberg, Herberson e Deusdeth Júnior) a nossa querida e inestimável mamãe Jacy** passa inexoravelmente pela compreensão e incorporação de suas principais críticas a sociedade brasileira. Essas críticas tem origem no silêncio covardemente estrepitoso dos homens que assistem condescendente ao extermínio criminoso das mulheres, quando não toma posição contraria aos altos índices de femincídio, estupro e múltiplas violências cometidas contra as mulheres.

Esse é o legado deixado por Dona Jacy que assumir como orientação a minha práxis política para manter sempre vivo. Esse é o melhor conselho, mesmo sendo desgastado pela onda conservadora de viés fascista, que uma mãe consciente deve dar aos seus filhos.Provavelmente, o desgaste sofrido por essa palavra se deu em função do uso excessivamente constante parte de famílias extremamente conservadoras, com a finalidade de enquadrar moralmente ou impedir os filhos de fazerem algo (que aos olhos do conservadorismo é imoral) que para eles é prazeroso.

Essa divergência escrupulosamente geracional a transformou em uma palavra retrograda de sentido antidemocrático. O seu significado hostil compromete a “liberdade” de expressão desses jovens que se sentem acossados pelos conceitos ultrapassados.

Essa dubiedade causa uma imprecisão semântica e isso pode ser o principal motivo para que diversas tribos jovens entrem em constantes conflitos geracionais. Se admitirmos ao menos parte dessa razão, tornar-se-ia razoável considerar também que essa expressão (conselho) vivencia o mais perverso absenteísmo, uma vez que eles a esbraveja como um termo anacrônico. Desse modo, o uso desse vocábulo entre as juventudes se tornou motivo de estranhamento, ou melhor, passou a ser algo atrasadamente sebastianista por causa do sentido inadequado dado semanticamente pelos conservadores. Sobretudo pelas as jovens que militam pela emancipação da mulher.

Por isso que a opinião sensata da mãe sobre algo que (aos olhos da observadora cuidadosamente atenta com a justa aplicação da razão) confere a sua inferência o peso de verdade, torna-se insuportável para as jovens feministas (ou não) que as inutiliza. Desabilita o raciocínio lógico das mães para analisar cada situação em particular da vida dos/das filhas. Embora seja quase sempre verdadeiro ao verificar a posteriori (no médio e longo prazo), nem sempre isso convence essas populações juvenis da mesma maneira como nos parece ser o correto, quanto ao que se deve ser feito.

Senão bastasse essa fissura entre a razão que perpassa um conselho de mãe e o entendimento incompreensível dos filhos, vacinados contra o conservadorismo cultural, temos ainda uma leitura sócio-histórica do lugar de fala da mulher na sociedade que antecede à condição de mãe. Eis aí uma segunda condição perversamente deslegitimadora da narrativa de mãe. Numa sociedade patriarcal, culturalmente machista e misógina, a mulher é terrivelmente coisificada para deprecia-la.

Nessa sociedade burguesa contemporânea, atravessada pelo conservadorismo extremado, a mulher é racionalmente invisibilizada pelo Estado e pelas instituições políticas existentes dentro da ordem civil burguesa. Essa sociedade a desconhece e isso ocorre porquê está “fora da ordem mundial” a presença minimamente possível do seu existir. Sobretudo como uma mulher intelectual, portadora de plenas condições cognitivas para o exercício equilibrado e democrático do poder socioeconômico e político.

Nesse sentido, vivemos tempos difíceis para todas as mulheres brasileiras (do campo e da cidade) por causa dos constantes ataques criminosos os direitos sociais, econômicos e políticos conquistados as duras penas por essa população em situação de vulnerabilidade. Essa liquidação das políticas públicas de proteção e promoção de gênero e mulher afeta a dignidade das mulheres, principalmente para as nossas queridas mamães. Quanto pior forem as condições impostas pelo patriarcado de opressão, exploração e violência às mulheres, mais doente fica a sociedade brasileira.

Por isso, nesse domingo (12) em que tradicionalmente o país comemora festivamente o dia das mães, eu proponho mais essa reflexão crítica sobre as reais condições de vida de nossas mães brasileiras. Óbvio que existem sim àquelas mães que usufruem de um poder aquisitivo infinitamente maior, em relação àquelas pauperizadas que habitam os rincões desse imenso desse país. Mas, nem por isso elas estão livres da opressão machista e da violência misógina do patriarcado.

Por isso, é imprescindível reafirmar a situação crítica de nossas mães empobrecidas, violentadas, sofridas e enclausuradas financeiramente por seus “maridos” machistas. Se forem mães negras, as coisas ficam mais gravemente periclitantes. Essas mães que se tornam circunstancialmente vítimas de relacionamentos emocionalmente instáveis, possessivos e perversamente agressivos. Essas mães vivem o infortúnio de relacionamentos difíceis com homens violentos com perfil passional, vivendo sob o risco de perderem a própria vida.

O momento de retrocesso em que o Brasil vive não pede flores e gestinho dissimuladamente conveniente de abrir a porta do carro como demonstração de “carinho”, mas de consciência crítica e ruptura com esse tipo de “conselho” conservador que as jovens emancipadas tanto repudiam. Precisamos reduzir drasticamente os indicadores de feminicídio no Brasil e isso passa pelo enfrentamento político dessa questão. Isso não se faz perfumando as discussões para o empresário capitalista ficar cada vez mais rico. Isso se faz pautando honestamente a sociedade com a questão da emancipação da MULHER.

Portanto, nesse dia eu reforço o excelente e prodigioso conselho de minha querida mamãe Jacy: “Mulheres, ame plenamente os seus filhos. Faça todos malabarismos necessários que a classe trabalhadora geralmente faz para cria-los com o mínimo de dignidade, mas não esconda deles a trágica realidade socioeconômica e política do país. Eduque-os como ser humano e não como macho predador pedante, arrogante, egoísta e agressivamente violento. Ensine-os a respeitar incondicionalmente a MULHER. Prepare-os para entender definitivamente que a vida, o corpo, a sensualidade e as escolhas de uma mulher não dizem respeito ao homem. Treine-os desde cedo para a lida doméstica, além de arrumar a sua própria cama, ensine-os a cozer, coser, lavar, passar.

Certamente, quando forem adolescentes, adultos e na melhor idade serão humanos melhores e o mundo será infinitamente melhor do que hoje. As estatísticas nos dirão que sim ao constatar na prática cotidiana essas mudanças significativas no comportamento dos homens. Pois, haverá muito mais solidariedade da parte dos homens e isso será verdadeiramente sentido na vivência doméstica.

Seus filhos não vão continuar explorando, abusando, violentando, estuprado e assassinando uma mulher sob nenhum pretexto ou condição de suposta inferioridade. O amor deixará de ser uma criminosa e sofismável “justificativa” para feminicídio, pois florescerá o verdadeiro sentido do amor entre as espécies humanas. Aprenderemos que o amor não tem nenhuma relação contra ou a favor a definição biológica binária de sexo (feminino ou masculino), e, sim sentimento.  O amor é superior à limitada forma corpórea humana, principalmente a tradicional definição social de Homem e Mulher.

Viva a emancipação peremptória da MULHER! Viva a capacidade infinitamente superior da Mulher que deve ter seu direito respeitado de declinar da maternidade, sem desmerecer que a mulher é única maneira de dar vida a outra vida! Viva os conselhos de Mamãe Jacy, que mesmo tendo feito uma linda passagem, jamais deixará de existir em nossas vidas porque o seu verdadeiro sentido de vida permanece presente em minha lembrança e a sua belíssima história de vida me inspira. Mamãe Jacy nós te amos!



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*Herberson Sonkha foi gestor administrativo lotado no Hospital de Base de Vitória da Conquista. Participou como membro do Comitê Gestor da Secretaria Municipal de Educação de Anagé. Presidiu o Conselho Municipal de Educação de Anagé. Coordenou o Programa Municipal Mais Educação e a Promoção da Igualdade Racial do município de Anagé. Foi Vice Bahia da União Brasileira de Estudante (UBES) e Coordenador de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Vitória da Conquista (UMES). Militante e dirigente nacional de Finanças, Relações Institucionais e Internacional e Formação Política dos Agentes de Pastorais Negros/Negras do Brasil-APN’s. Membro dirigente do Coletivo Ética Socialista (COESO) organização radical de esquerda do Partido dos Trabalhadores.


** Jacy Souza Rocha é natural de Itagi, baixo sul da Bahia, segundo registro no COREM, aposentou-se como técnica de enfermagem exercendo a atividade no Município de Manoel Vitorino. Casou-se com Alicio Alves da Silva em 1968 quando adotou o nome de casada, Jacy Sousa Silva de quem nunca se divorciou. Iniciou sua carreira na área de saúde em 1965 ajudando voluntariamente as freiras que cuidavam das crianças doentes que viviam em regime de internato no Orfanato Lar Santa Catarina de Sena, onde aprendeu a fazer caridade de forma incondicional que lhe acompanhou por toda a sua vida.
Apaixonou-se pela profissão e, a partir de 1969, passou a atuar profissionalmente como Atendente e depois como Auxiliar de Enfermagem no Crescêncio Silveira e Hospital São Vicente de Paula até 1990.  De volta a sua cidade de infância, no início dos anos 90, atuou no Posto de Saúde da rede municipal de Saúde de Manoel Vitorino. Nesse mesmo período, realizou seu antigo sonho de adolescente que era estudar o curso de Técnica de Enfermagem, que o fez com êxito depois de 60 anos de idade.
Portadora de doenças crônicas, passou seus últimos 20 anos convivendo com diabetes, pressão arterial e duas amputações de membros inferiores ocasionadas por problemas vasculares. Descansou em agosto de 2015 por complicações respiratória, seguida por uma parada cardiorrespiratória, causando morte súbita.

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