terça-feira, 2 de abril de 2024

A defesa da função de vereador à luz das teorias políticas de Rousseau, Mill e Arendt

Imagem de Denis Gasco em:
"Liberalismo, socialismo, nacionalismo"

"Os autores e suas obras apresentam uma variedade de ideias que podem ser associadas tanto ao liberalismo quanto ao pensamento socialista, dependendo do contexto e das interpretações específicas."


*por Herberson Sonkha

 


Este artigo é um desejo antigo de explorar a defesa da função de vereador nos marcos da funcionalidade institucional legislativa do Estado Democrático de Direito, de viés liberal, à luz das teorias políticas de Jean-Jacques Rousseau, John Stuart Mill e Hannah Arendt.

Os autores apresentam argumentos fundamentais que ressaltam a importância da participação política, da representação e da defesa dos interesses da comunidade, proporcionando um embasamento teórico relevante para a compreensão e promoção do papel dos vereadores na esfera municipal. Além disso, são discutidas as contradições comuns enfrentadas nas Câmaras de Vereadores e propostas de superação dessas questões.

O ponto de partida da análise é o referenciado site Politize, em matéria intitulada "Vereador: qual sua função?”, do jornalista Bruno André Blume, em que:

“(...) o vereador é um agente político, eleito para sua função pelo voto direto e secreto da população. Ele trabalha no Poder Legislativo da esfera municipal da federação brasileira. Assim, o vereador tem um papel equivalente ao que deputados e senadores têm nas esferas mais amplas (Estados e União).

Antes de abordarmos a questão da função de vereador propriamente dita e suas respectivas teorias assentadas no campo da ciência política, faz-se necessário destacar o debate sobre a perspectiva ideológica dos autores Jean-Jacques Rousseau, John Stuart Mill e Hannah Arendt aqui analisadas. Os autores e suas obras apresentam uma variedade de ideias que podem ser associadas tanto ao liberalismo quanto ao pensamento socialista, dependendo do contexto e das interpretações específicas.

Jean-Jacques Rousseau é frequentemente associado a ideias que influenciaram tanto o liberalismo quanto o pensamento socialista. Sua obra "O Contrato Social" defende a ideia de um contrato entre os cidadãos para a formação de um governo legítimo, enfatizando a importância da vontade geral e da soberania popular. Esses conceitos podem ser vistos como influências tanto no liberalismo democrático quanto em correntes socialistas que valorizam a participação popular e a igualdade.

John Stuart Mill é frequentemente considerado um pensador liberal, especialmente devido ao seu trabalho "Sobre a Liberdade¹", no qual defende a liberdade individual e a limitação do poder coercitivo do Estado. No entanto, suas ideias também incluem elementos que podem ser interpretados como tendo influências socialistas, como sua defesa da participação política e da consideração das diferentes perspectivas da sociedade na tomada de decisões.

Hannah Arendt, embora não seja facilmente classificada como liberal ou socialista, é conhecida por suas contribuições para a teoria política e filosofia, enfatizando a importância da ação política e da participação ativa dos cidadãos. Suas ideias sobre a importância da liberdade e da responsabilidade política podem ser associadas a correntes tanto liberais quanto socialistas.

Portanto, é importante reconhecer que a obra desses autores transcende categorizações simplistas e pode ser interpretada de maneiras variadas, refletindo uma gama de influências e contribuições para o pensamento político e social.

Cabe ressaltar que essas obras podem sinalizar tanto no sentido de esgarçamento do modelo liberal pelos socialistas, quanto a manutenção do atual modelo sem maiores conflitos ideopolíticos com o amplo uso pelo mandato de vereador social-liberal.  Portanto, pôr sinalização em questões relacionadas ao debate entre a “democracia de alta densidade” e a “democracia radical”, contudo, abordarei essas perspectivas em outro artigo posterior.

A função do vereador desempenha um papel crucial na esfera municipal, representando os interesses da população e contribuindo para a tomada de decisões que impactam diretamente a comunidade local. Neste artigo, serão exploradas as bases teóricas que fundamentam a defesa da função de vereador, com base nas contribuições de Jean-Jacques Rousseau, John Stuart Mill e Hannah Arendt. Além disso, serão discutidas as contradições comuns enfrentadas nas Câmaras de Vereadores e propostas de superação dessas questões.

Defesa da função de vereador à luz das teorias políticas:

Jean-Jacques Rousseau, em sua obra "O Contrato Social²", destaca a importância da representação política como um meio de garantir que a vontade geral do povo seja expressa e respeitada. Ele argumenta que a eleição de representantes é essencial para a preservação da liberdade e da igualdade. No contexto da função de vereador, essa argumentação pode ser aplicada ao papel do vereador como um representante eleito para defender os interesses da comunidade local no âmbito municipal.

John Stuart Mill, em "Sobre a Liberdade", defende a importância da participação política e da representação como meios de proteger os direitos individuais e de garantir que as diferentes perspectivas da sociedade sejam consideradas na tomada de decisões. A argumentação teórica dessa obra pode ser utilizada para defender a função de vereador, destacando a importância dos vereadores como representantes eleitos no âmbito local.

Hannah Arendt, em "A Condição Humana³", destaca a importância da participação política ativa dos cidadãos e a necessidade de representantes eleitos para expressar e defender os interesses da comunidade. A argumentação teórica desta obra pode ser utilizada para defender a função de vereador, enfatizando o papel dos vereadores como representantes eleitos que promovem a participação cidadã e defendem os interesses locais.

Superando as contradições nas Câmaras de Vereadores:

As Câmaras de Vereadores frequentemente enfrentam contradições, como a falta de transparência, corrupção, clientelismo e distanciamento dos representantes em relação aos interesses reais da população. Para superar essas questões, é fundamental promover a transparência nas ações legislativas, fortalecer mecanismos de prestação de contas, incentivar a participação ativa da sociedade civil na formulação e acompanhamento das políticas públicas, e fomentar a ética e a responsabilidade no exercício do mandato.

Além disso, a educação cívica e a conscientização sobre a importância do voto e do acompanhamento das atividades parlamentares podem contribuir para uma maior responsabilidade por parte dos vereadores. A promoção de mecanismos de controle social, como audiências públicas e consultas populares, também pode ajudar a aproximar os vereadores dos anseios da comunidade e a garantir uma atuação mais alinhada com as necessidades locais.

Em síntese, a defesa da função de vereador à luz das teorias políticas de Rousseau, Mill e Arendt destaca a importância da participação cidadã, da representação política e da defesa dos interesses locais no âmbito municipal na perspectiva da democracia de alta densidade. Ao superar as contradições enfrentadas nas Câmaras de Vereadores, é possível fortalecer a representatividade, a transparência e a eficiência no exercício do mandato dos vereadores, garantindo que cumpram efetivamente seu papel na promoção da democracia participativa e na defesa dos interesses da população local.


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[1] MILL, Jonh Stuart, "Ensaio sobre a liberdade", 1859, Inglaterra.

[2] ROUSSEAU, Jean-Jacques, "Do contrato social", 1762, Editora Edipro, França.

[3] ARENDT, Hannah. "A Condição Humana", 1958, Editora University of Chicago Press, EUA.

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