terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

A política conquistense e seus babados nas eleições do fim do mundo

 *por Herberson Sonkha 



A cidade tomou conhecimento de um fuxico caviloso, espalhado por um botoqueiro marmoteiro (nominalmente apalermado), conhecido nos bastidores da política conquistense pelo asco como se tornara uma pessoa sabuja, figura egocêntrica, retrógrada e bravateira. Disse aos quatro ventos com cara de pinus envernizado, e em tom de “advertência”, talvez fosse mais apropriado definir como deboche, que havia na cidade quem comprasse votos às vésperas de uma importante eleição municipal. 

Subiu o tom como quem quisesse mandar um recado às autoridades, alertando para que tivessem cuidado com o mau comportamento dessas pessoas (quais?) dispostas a cometerem esse tipo de crime eleitoral. Quando li o pasquim achei que se tratava de um ato falho, mas depois me dei conta de que esse tipo de “político original” se tornara tão comum na recém-derrotada anomalia de extrema-direita que tentou derrubar a força a república pelas mãos manchadas de sangue da bisonha familícia nazifascista. 

Esse fato me lembrou de um personagem que ouvi falar na década de 80, quando se contavam aqueles ‘causos’ engraçados em velório. Antigamente havia a figura do contador de causos de oratória impecável, impossível não ficar em silêncio para ouvi-lo (embora não menos empolgado pela birita grátis) se aventurar pela literatura oral. Recentemente, estava na sede do MST, na Av. Fernando Spínola, no velório do companheiro Márcio Matos, filho do ex-prefeito e, na época, vereador Jadiel Matos (PT), ambos de saudosa memória. 

Fui para uma última despedida, triste, todavia, necessária. Estava muito cheio e abafado dentro do galpão, mas o vi ali emudecido. Depois de passar alguns segundos tentando aceitar o porquê daquela tragédia que arrancara precocemente o companheiro da gente, me incomodava o fato de que restava apenas um corpo estendido naquele esquife. Apesar disso, não podia evitar alguns flashes de alguns intensos e profundos debates sobre a natureza da política e suas possibilidades de rupturas radicais à esquerda. 

Como ritualística fúnebre, cumprimentei a companheirada e amigos e saí um pouco para tomar um ar. Dessa forma, juntei-me a tantas outras pessoas que vieram à sentinela velar o amigo. Algo curioso é que faz parte da cultura popular campesina ou nas periferias “beber o morto”, uma expressão antiga que quer dizer tomar uma cachaça em homenagem ao falecido durante o velório, revivendo acontecimentos passados relacionados ou não com quem partiu, incluindo histórias, causos, anedotas e fatos relevantes ocorridos com a pessoa que morreu. Isso inclui as conversas sobre várias temáticas, inclusive a bendita (ou neste caso, a maldita) política. Eis que surge uma dessas figuras cinquentenárias, barba cheia e bigode grande branco com as pontas queimadas pelo costumeiro cigarro de fumo Jangadeiro e largou essa. 

Disse que certa vez, um homem desconhecido puxou a bolsa de uma bela senhora elegante e grã-fina no centro da cidade, ela andava como quem desfilava tranquilamente com sua bolsa a tiracolo (talvez, fosse uma Vintage Purse handbag) nas imediações das barracas da feira do antigo mercadão. Arrancou-a e saiu correndo na direção do hospital Santa Casa de Misericórdia São Vicente, na Av. Crescêncio Silveira, gritando “pega-ladrão”, “pega-ladrão”. Roubaram a bolsa da madame. Vários olhares o procuravam inutilmente na mesma direção. 

Acenava desesperadamente com o braço sinalizando na direção para onde o homem supostamente teria fugido e desaparecido na multidão. No meio daquela confusão armada de propósito, coincidentemente, surge um camburão (era àquela temível Veraneio de cor azul e branca) e alguns policiais descem para saber sobre o burburinho. As pessoas apenas repetiam o que o sujeito gritava: Roubaram a bolsa da madame! 

De repente um homem de meia idade, vestindo calça de linho branco, paletó da mesma cor, um chapéu panamenho branco com listra preta horizontal, caído sobre os olhos, se aproximou e se dirigiu ao policial dizendo que se tratava de um roubo de bolsa e apontava na direção da vítima desesperada. Disse que o observava de longe, quando o viu arrancar com grande violência à bolsa e sair correndo embicado pela avenida gritando. É como se ele estivesse empenhado em capturar o gatuno, tomar de volta a bolsa e devolvê-la a sua dona como um ato de cortesia característico de um distinto cavalheiro, defensor dos “fracos e oprimidos”.

Na verdade, explica o Senhor que tira seu chapéu, expondo a sua cabeleira grisalha, dar uma pausa na fala e continua dizendo que o fulano que ladrava era o mesmo impostor que havia roubado a bolsa. E que ele agia habilidosamente dessa forma apenas para enganar os olhares incautos ou mesmo desviar a atenção da polícia para que pudesse fugir ileso.

A política tem dessas coisas (embora não seja exatamente isso que a defina), pois, recentemente vimos a corruptela (no falar ancestrálico se dizia currutela) do algoz opressor que tentou dar um golpe na Constituição Cidadã (1988) do Brasil, defendê-lo como vítima das engrenagens jurídicas, sentindo o peso dos rigores da lei que o busca dentro do devido processo legal para sentenciá-lo por todos os crimes cometidos. 

Em verdade, a política é uma ciência. Talvez, tenha mesmo um pouco de arte. Contudo, o pilar fundamental que a torna científica na contemporaneidade é o instrumental teórico forjado pelas ciências políticas. Uma ciência social direcionada aos estudos e as pesquisas sobre os Estados, governos e as instituições de controle do poder. É lamentável ler pasquim como esse do botoqueiro em uma cidade do tamanho e da importância que Vitória da Conquista. As nossas universidades públicas, sobretudo a UESB oferecem cursos como o de Ciências Sociais, História, Geografia, Economia e Filosofia para evitar retrocessos como esse que vivenciamos. Essa instituição vem produzindo estudos atualizados sobre as relações de poder e suas instituições públicas no município. Apesar disso, precisa se debruçar sobre a farta documentação produzida nas últimas décadas pelos inúmeros mandatários que passaram (alguns ainda estão) pela Câmara Municipal de Vereadores. 

Esses estudos devem explicar todas essas anomalias políticas de gente que se nutre da ausência efetiva da cidadania para lograr êxito eleitoral. É uma vampirização do sangue da população conquistense. No entanto, se apresentam despudoradamente como legítimos representantes dos interesses do povo conquistense. 

A cidade deve ter acesso a esse conhecimento para aprender a separar fake-news de fatos verídicos, identificar políticos boçais, criticar essa gente arrogante e mentirosa para que não tenhamos que lançar mão de analogias para explicar a moral por detrás desse blefe, pois, o referido fuxiquento que esgoela nas redes sociais como alguém de reputação política recomendável é politicamente mais sujo do que pau de galinheiro.


0 comments :

Postar um comentário